sábado, 27 de agosto de 2011

Narcisistas apaixonados

Há alguns dias estava a pensar naqueles momentos em que se vive que nem um vegetal, sem sair do sofá, sozinho, alimentando-se de objetivos quase inalcansáveis de sonhos que dificilmente se materializarão e de programas que praticamente vendem-se ao diabo por audiência, em que fala-se sobre tudo o que não é importante, ou é considerado fútil pelas mesmas pessoas que assistem apenas para levantar sua auto-estima, já que com personagens bizarras tentam convencer a audiência que sua auto-estima é o seu maior património. De tanto assistir a estes programas  já me convenci que preciso ser sempre o mais bonito, o mais inteligente, o mais capaz, o mais etc., já que ser menos alguma coisa pode ser um quadro grave de baixa auto-estima. Felizmente, já existe cura e para os casos crônicos, até um tratamento, que “apenas” exige que compremos o nosso bem estar de todas as maneiras possíveis. – Gastando aquelas horas ociosas nos fantasiando de príncipes e princesas, ou barbies em tamanho natural, tentando garantir a auto-estima com esquemas de beleza que não duram mais do que 15 minutos, ou escondendo nosso medo de paracer ignorantes com discursos ensaiados e títulos desnecessários, que apenas nos tornam especialistas nas coisas que não nos fazem a menor falta; e quando isso não bastar, sempre nos sobram os programas de domingo à tarde que parecem livros de auto-ajuda já que nos deixam cada vez mais apaixonados por nós mesmos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Para que servem os momentos constrangedores

Estava a pensar na importância dos momentos constrangedores, para que servem aquelas situações em que temos vontade de nos enterrar de tanta vergonha. Sem dúvida que é bem melhor quando se passam com outras pessoas. Como naquela palestra em que minha amiga, armada em sabichona, decidiu corrigir o palestrante, que tinha usado curricula como plural de curriculum, a fulana não resistiu, quiz aproveitar a oportunidade para mostrar que era tão inteligente quanto aquele professor com títulos que quase faziam a calvice parecer algo menos importante. Ele, com aquela solicitude de gente que sabe exatamente o que faz, deu um sorriso antes de explicar com uma simplicidade humilhante como todas as palavras que terminavam daquela forma no plural não usavam o ‘S’, era o caso de curricula em vez de currículos, fora em vez de fóruns e várias outras. Sem dúvida não houve na sala quem não pensasse silenciosamente: ainda bem que mantive a minha boca calada, ou que ser ignorante pode ajudar a evitar situações potencialmente embaraçosas. Porém, engana-se quem pensa que é sempre assim,  já passei vergonha por não  saber o que escolher no cardápio, decidi pelo comum arroz com feijão – claro que não foi nada dignificante ouvir o garçon dizer com uma educação quase doentia: - Não servimos este prato por aqui! Quando voltei ao restaurante com vontade de impressionar uma certa menina, o mesmo garçon lá estava de novo e com aquele sorriso de quem não ia perder a oportunidade de dar uma boa gargalhada às minhas custas chegou devagarzinho e disse quase sussurrando: - Já temos arroz, apenas não temos o feijão! Nessa altura aprendi que não se deve voltar para o lugar do acontecimento constrangedor senão depois de passar um tempo razoável, de preferência depois que até mesmo você já se tenha esquecido do ocorrido, para evitar aquela neurose que te levará de volta ao dia vergonhoso. É bom quando essas coisas acontecem sem que ninguém nos tenha visto, é quase uma benção; e se tiver alguém por perto, de preferência que seja um desconhecido, porque senão aqueles olhos de pena que te acompanharam no dia ‘D’, não vão parar de te assombrar. Mas tenho tido umas boas lições de tudo isso, com a minha minha amiga, por exemplo, descobri que zangar-se com as pessoas que presenciaram a cena, não vai resolver, normalmente tende a agravar a situação, por isso o melhor mesmo é rires de ti mesmo. Ser sua própria plateia e te divertires com as tuas próprias imperfeições.