Na
minha opinião esta seria uma
forma de se deveria noticiar o caso do assassinato em que envolveu-se o agente
dos Serviços de Investigação Criminal (SIC).
Para pensarmos sobre isso convido o leitor a acompanhar-me
numa tentativa de reflexão sobre alguns dos vários aspectos que encerra a
questão. Mas começo por avisar que a digressão necessária não é tão simples
quanto pode parecer!
1. Para ser considerada culpada, a pessoa tem antes que
ser julgada e condenada, não esqueçamos que a nossa lei prevê a presunção de
inocência.
2. Há um problema sério no facto de um assassinato com 5
tiros à queima roupa estar a ser tratado com uma espécie de entusiasmo
felicitante por nós. Afinal estamos a festejar a morte de alguém como se tivéssemos
apanhado dinheiro. Ainda que como se diga haver a suspeita de preparação para o
cometimento de um crime, o vídeo gravado mostra que no momento da execução o jovem
estava imobilizado no chão e já não constituía, portanto, ameaça para ninguém e
muito menos para um agente armado.
3. A exultação da população manifesta nas redes sociais,
pode ser compreendida pela crescente percepção do aumento da violência,
levando-as a cair na armadilha de aceitar soluções rasas e superficiais como o
assassinato, sem avaliar outros elementos produtores dessa sensação de
insegurança, ou seja, sem olhar para as questões de fundo e sem procurar
soluções mais cuidadosas e sobretudo sem pensar nas implicações de uma polícia
matadora.
4. Fica invisibilizado nessa alegria momentânea que no fundo o que se está a fazer é permitir
à polícia actuar de maneira abusiva não
somente contra aqueles que tenham supostamente cometido algum acto criminoso,
mas sobre qualquer cidadão que tenha o azar de se deparar com a imposição de
acções violentas da polícia em situações que muitas vezes não representam
perigo real para o agente.
Quanto à execução, ainda é
preciso dizer como alguns veículos já lembraram, que essa é uma prática normal
dos nossos agentes PÚBLICOS de segurança e o jornalista Rafael Marques o demonstra
em seu extenso Relatório sobre execuções
sumárias em Luanda, que cobre os anos de 2016 e 2017.
Deste modo, quando festejarmos novamente a EXECUÇÃO de
um suposto marginal, lembremo-nos que esse modo de funcionamento não é apenas
extensivo aos supostos marginais e mais rápido de que se imagina há de atingir
qualquer um de nós.
Intertexto
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.