sábado, 17 de outubro de 2009

MEU VÍCIO É A LIBERDADE

II Parte
Era inverno e abandonar lugares quentes era muito difícil, além disso, a escuridão castigava os vagabundos, os sem tetos, todo mundo.
Também adoro a noite, pensou, não quando é fria muito menos quando é quente, o calor é tão ridículo e insuportável quanto o frio. Gosto mesmo dela temperada, é isso, um clima tropical úmido é o ideal, uma noite morna é o sonho de todo o vagabundo. Precisava se apressar, assim podia tentar encontrar abrigo numa pousada qualquer, ele as conhecia bem, o único problema é que sempre tinha muita gente na fila. Como gostaria de voltar a ter uma cama a qual pudesse chamar minha! Antes eu tinha uma, enorme confortável com lençóis coloridos com um monte de retratos propagandísticos, com figuras de desenhos animados. Não! A quem queria enganar, não era assim que era a sua cama, simplesmente era assim que queria se lembrar, o cobertor não passava de uma manta de retalhos velha, desgastada e desbotada, mas pelo menos era sua. Não era emprestada uma vez por noite a uma pessoa diferente, tinha o seu cheiro, somente o seu. Só ele fazia xixi naquele colchão. Como era bom o cheiro de xixi ao acordar. Apanhava sempre, mas ele continuava a molhar a cama, divertia-se com isso, sentia-se no poder porque ninguém podia lhe controlar. Podiam bater o quanto quisessem, mas nunca deixaria ninguém fazê-lo parar. Mas agora perdi meu colchão. Agora, tenho que sonhar que estou a sonhar para poder dormir um sono tranqüilo, como eu gostaria de ser como os outros e puder chorar sempre que estivesse a sofrer, infelizmente não consigo, não aprendi a chorar quando estou triste e nem quando estou contente consigo sorrir. Sinto como um autômato!
- Sabes porquê que eu sou assim? Viciei-me, é isso meu amigo, me viciei em liberdade, um dia sai e disse: - Vou pesquisar, saber como é, e depois, vou experimentar, por pouco tempo só o necessário para compreender, então lá estava eu assim como você me conhece hoje. Eu nem sempre fui assim, antes era como você, viciado em dependência. Só por este motivo eu sofro, quero me livrar de um vício para circular dentro doutro, para respirar e saborear outro. Quem me vir a falar contigo não vai compreender, mas eu sei que você compreende, você não usa palavras para mostrar que me compreende, por isso eu sempre prefiro falar contigo, pois é, voltaste a abanar a cabeça. É isso mesmo que eu quero dizer. Eu preciso continuar a libertinar.
Cuidado com os exterminadores de vício!
Felizardo Costa
Obs: Continua.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MEU VÍCIO É A LIBERDADE

I Parte
A comida parecia ótima, a visão era altamente apelativa, e o inebriante odor lhe fazia cócegas no estômago, estimulando nele pensamentos confortáveis. Provou um pouco da lasanha enquanto esperava pela garrafa de Château Mouton-Rothschild. Hum! Pensou era quase um sacrilégio não poder comer algo tão bom, nunca mais vou a outro lugar, aqui tem o que há de melhor. Cada tragada daquele ar condimentando lhe levava de volta à sua maravilhosa infância. Enquanto pensava, ouviu uma voz: - Senhor, senhor, deve ser o garçom, pensou preguiçosamente.
- Senhor. A voz veio mais alta.
- Senhor! Dessa vez foi quase um grito, mas ele continuava absorto nos seus pensamentos, via o garçom, agitando na sua frente, uma opulente garrafa e mais uma vez a voz esganiçada, - Senhor! Seguida do som de um estalido. Ele sobressaltou. Sentiu o desconforto da cadeira, olhou em volta e viu-se numa sala clara, numa parede distante à sua frente, uma tela enorme. O cheiro e o sabor da lasanha tinham-se perdido.
- Senhor, o filme terminou, precisamos fechar a sala.
- Está bem, obrigado! Disse fazendo esforço para se situar mentalmente.
A realidade inundou os seus olhos, as poltronas eram vermelhas. Como adorava o vermelho! era a cor da sensualidade, era a cor da tentação. Para si o vermelho era mais que uma cor, era um sentimento, um medo, um fantasma, um modo de arrependimento, por isso escolhera aquela sala, todos os dias entrava na mesma hora e em vez de assistir ao filme como todo mundo fazia, ele dormia, às vezes até roncava e justamente naquelas horas em que o filme mais pedia silêncio. Não podia controlar o seu ronco, era de prazer, vinha do cheiro à lasanha que comia diariamente debaixo da luz fusca daquela sala de cinema, naquele sonho de todos os dias, que acabava sempre da mesma forma. Eu preciso de um filme que demore mais tempo, dizia para si mesmo, pelo menos... quinze minutos, não vou me importar. Mas trinta era tudo quanto precisava para tragar aquela maravilhosa sinfonia de sabores. No fundo era tudo imaginação, ele sabia, mas gostava e por isso revivia aquela refeição sempre da mesma forma, no início de cada filme e no momento em que o zelador lhe mostrava a garrafa de Château Mouton-Rothschild, ou melhor, no momento em que o garçom batia as palmas de retirada, bom, sei lá essas luzes sempre me confundiram nunca soube quando eram os holofotes ou quando era o sol, para mim o importante é que tivesse luz e ponto.
Felizrdo Costa
Obs: Continua
Cenário

Cantei-lhe um soneto,
De versos seletos,
De beijos dísticos,
Deverás místico.

Cantei-lhe em quarteto,
Na clave l´amour,
Cantei-lhe em temor,
E quarta voz;

Cantei também em trova
Uma composição nova
Nos sustenidos do piano
Com suspiros suspensos
No seu olhar temprano;

Cantei por fim um beijo
E cartei de si o ensejo
De um sonho a nósNum cenário a dois.
Felizado Costa
Eu vivo como o mar

Eu vivo como o mar,
Transpirando o agridoce da paisagem salgada,

Regendo-me pelo cosmo
Localizo meus afetos
Em algum deserto...
Que nem eu sei

Em mim, mar e areia
Se juntam e afastam ritmados
Enquanto o crepúsculo
Leva meu pôr-do-sol
E com ele teus suspiros, ou meus!

Revivo o você
O teu transpirar, o descaso de nada (coisa alguma),
Sonho(ar)! Até minha mente perder o fôlego,
Mas sossego, com o solilóquio dos nossos olhares...
Felizardo Costa