Imagine uma pessoa estatelada no chão, depois
de uma queda pública espalhafatosa, quando aparece um Zé da Esquina, que
pergunta despropositadamente:
- E então, caíste? Como se tudo que tinha
acontecido pudesse ter sido um teatrinho feito apenas para atrair a atenção de
um bando de desconhecidos. Claro que na maioria destes casos você está tão
desmoralizado, que no máximo apenas te vai sobrar inspiração para dirigir-lhe
um olhar fulminante. E então, depois de passado o susto lá vem silenciosamente
a resposta, que gostarias de ter dado naquela altura:
- Não. Estava somente a experimentar uns
malabarismos e a explorar as limitações mecânicas do meu corpo!
Imagino que muitos, já tiveram aquela vontade
quase assassina de responder com tolerância zero à esse tipo de pergunta.
Afinal, o “tipo” já viu a obviedade da resposta e mesmo assim ainda te provoca
com aquela pergunta asquerosamente imbecil e não me digam que é por boa
educação, porque nesse caso não perguntaria, ajudaria a levantar, ou melhor
ainda, cairia também, só para mostrar solidariedade. Em minha opinião, é mesmo
imbecilidade, perguntar a que horas sai o autocarro (ônibus) das sete, como se
existisse algum planeta em que ele sai às oito, sem deixar de ser “o das sete”,
por este motivo, meu amigo não poupa impropérios quando alguém liga para o seu celular,
perguntando pelo dono do telemóvel. Mas claro que às vezes ele abre um
parêntesis de condescendência à deselegância da pergunta:
- Não, é que ele deixou o telemóvel na praça,
porque está fazendo campanha contra a descriminação à perguntas esdrúxulas!
Mas é também verdade, que nós mesmos não
somos imunes a isso e às vezes só nos apercebemos da redondeza da nossa bem
intencionada pergunta, depois de uma resposta brincalhona de um sicrano
qualquer:
- Não, não estou aqui, é apenas uma projeção
holográfica, pois neste momento estou gozando umas férias no Havaí, apreciando
a brisa que me chega do vai e vem preguiçoso das ondas.
E uma resposta tão criativa quanto essa dói tanto
que te faz lembrar aquela pancada despropositada na porta, ou janela deixada
aberta por acaso, como se estivesse lá apenas para te fazer ouvir um irritante:
- Doeu? Ainda mais despropositado ao qual
adorarias responder sem a polidez convencional:
- Queres experimentar, seu despenteado mental?