terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pretos ou pobres?

Ninguém gosta de ser pobre, já disse isso uma vez. Então os discursos sobre humildade e orgulho são pura hipocrisia, ou argumentos de pessoas mal informadas, talvez iludidas com a idéia romântica que associa eufemisticamente pobreza a humildade, o que eu acho ser também uma grande injustiça tanto com os próprios pobres quanto com aqueles que não o são. É claro que tais argumentos se construíram ao longo de séculos e hoje apenas nos restam os clichês do ser ou não ser. Não nos sobrou muito espaço para refletir a respeito, e muito menos para discordar. Quando se fala de pobres se seguem sempre capciosas justificações: pobre, mas honesto, pobre, mas trabalhador, etc. É como se não bastasse ser pobre, é preciso ser sempre algo mais, além disso. Da mesma forma como é sempre preciso ser mais do que negro. Como negro e inteligente, negro e honesto, ou o cúmulo: negro com alma branca (ainda não sei bem quem é esse tipo de negro). Talvez por isso eles não parecem ter muitas saídas além de querer ser um grande jogador de alguma coisa. Quem sabe haverão mudanças, quando estes artifícios se tornarem tão desnecessários quanto quando se fala de ricos, ou brancos, pois, sempre pressupomos coisas boas sobre estas pessoas. Mas enquanto isso não acontece, vou tentar ser bom de bola, mas primeiro preciso de pernas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um assalto de cada vez

Todos os dias somos inundados com noticiais desesperadoras de crimes que já fazem parte do nosso quotidiano. Ninguém mais está isento de ser abordado por um estranho com um capuz, uma arma e uma criatividade lingüística enorme para anunciar um assalto. Ficar em casa nunca foi tão perigoso. E a habitual segurança de estarmos no nosso espaço pessoal foi substituída pelo medo constante de ser capitulado na sua própria cozinha, usando o teu conhecimento do lugar para te manter refém, e sair que nunca foi seguro, agora se tornou quase letal, seja ir ao banco cheio de esperanças de que aquele mísero salário já tenha caído, ou à farmácia da esquina para comprar a camisinha na esperança de antecipar o fim-de-semana, ou ainda na fila do supermercado, enquanto flertas com a moça do caixa. Não tem hora nem local exato para seres surpreendido com um enérgico: “isso é um assalto”, fazendo com que a tua vida se confunda com um filme perigosamente suspensivo, enquanto tens uma arma apontada para qualquer lugar vital do teu corpo, porque tu estavas justamente naquele lugar, no momento inapropriado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Humildade hipócrita

Essa coisa de dizer, “tenho orgulho em ser pobre”, me parece mais uma dessas demagogias impostas para fazer com que alguns grupos de pessoas não se sintam tão mal. Simples eufemismos ilusórios, afinal, ninguém deseja manter-se assim a vida toda, e se fosse realmente algo de que as pessoas poderiam gabar-se não veríamos ninguém empenhado em “mudar de vida” , pois é um orgulho viver em lugares que parecem centros de emprego ratatoille, tendo a leptoaspirose por vizinha, ou viver com muito menos que uma refeição por dia e nem se preocupar em filosofar sobre o quanto isso é improvável, não saber o que é água potável e achar que aquele frango cheio de toxinas é realmente um manjar dos deuses, pensar que guardanapo é um prato servido em restaurantes extremamente finos e frango Francês, vinho francês, arroz francês e salada francesa são realmente pratos franceses. Viver apenas para trabalhar e pagar contas, pagar mais contas, e trabalhar como se a abolição da escravatura fosse apenas um projeto de lei. Chegar ao final do salário muito antes do final do mês e ainda convencer-se que existem pessoas em situação pior, como se isso fosse fazer alguma diferença. Viver de um otimismo quase utópico, principalmente no fim de semana, quando se fazem as visitas costumeiras ao shopping apenas para engordar os olhos. Ser visitado por discursos paternalistas cheios de promessas que não têm que se cumprir, ou pelas falas sinicamente moralizadoras de celebridades que se acham um exemplo de superação e desfilam uma humildade hipócrita sobre o tempo em que também eram pobres.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando a dor no ciático não desaparece

O tempo vai passando e então vamos percebendo o quanto estamos a passar com o tempo. No início a velha história dos amigos que tu vais perder pelo casamento, enquanto te especializas cada vez mais nessa coisa de ser solteiro e isso não para aí. Os sinais continuam cada vez mais físicos e menos imaginários. Já não consegues fazer aquela corrida heróica de 100 metros depois de uma bebedeira daquelas, na verdade, à essa altura, já perdeste toda a capacidade de apanhar uma bebedeira decente e o excesso de peso há muito deixou de ser simplesmente uma piada de mau gosto dos teus companheiros. Por isso a vontade de fazer exercícios agora é mais uma necessidade.
Na noite, vais precisar cada vez mais da carteira para convencer a mulherada sobre o quanto és charmoso, e a não ser que sejas uma estrela de cinema, ele vai realmente diminuindo.
A maior parte das tuas idéias se cristalizou transformando-se em convicções e sem dúvida, elas estarão tão ultrapassadas quanto as tuas opiniões sobre moda, música boa ou bons filmes. E pouco restará da tua vida de atleta, e entre uma e outra dor no ciático, sem dúvida: jogging será para ti um desporto radicalíssimo.