Antes era bem mais fácil pensar nas formas de
exploração a que estávamos submetidos, elas eram transparentes e tangíveis,
sabíamos onde estavam os exploradores, pois ora eram colonizadores, ora porcos
capitalistas; burgueses barrigudos e em fatiotas escandalosas desfiando o
rosário da sua perversa opulência diante de miseráveis trabalhadores, ora um
aristocrata que tendo nascido por alguma improbabilidade estatística dentro de
uma família assim chamada nobre, que vivia sem remorsos pelos injustos privilégios
de que desfrutava, sem considerar que sua ascendência tinha sido na verdade o
único critério “meritocrático”, ora um escravocrata que se beneficiara de um
acidente histórico que o havia tornado parte de uma sociedade cronicamente desigual,
etc. os exemplos são inúmeros e se repetem escandalosamente.
Contudo, veio a época em que se iniciou o projeto
da mundialização da economia, extinguindo rapidamente e com ardis ignóbeis as
economias locais, diluindo negócios de pequeno porte ou engolindo-os numa
estrutura econômica oligárquica global, tornando o explorador num grande outro
impessoal, coletivo e sangrentamente neoliberal. Exercendo seu poder de formas
(difusas) antes impensáveis, pois diferente do tempo em que esse exercício de
dominação poderia ser facilmente personalizado num patrão, que era o dono da
fábrica, ou de um pequeno conglomerado de mercados locais, ou que talvez até
fizesse parte da mesma comunidade em que tinha instalado seu negócio e consequentemente
seus filhos estudavam e brincavam nas mesmas escolas dos filhos de seus
empregados, a conjuntura mudou radicalmente. A propriedade das entidades
comerciais em muitos lugares se desterritorializou, sendo que os empresários passaram
a adquirir ações de empresas que nem sequer sabiam apontar no mapa, pois sua
parcela do negócio dependia apenas de possuir um conjunto de papéis que
legitimam tal posse, junto com outros sócios, de quem ele jamais sentiu cheiro
algum. Com isto o próprio dinheiro se desnacionalizou, criando os monstros que
conhecemos hoje como multinacionais, garantido desta forma que aquele poder agora
intangível exercido economicamente, estendesse sua influência à educação, à
saúde, à cultura e essencialmente à política, transformando líderes mundiais em
fantoches desses tentáculos invisíveis de poder, construindo um sistema de
dominação quase impossível de explicar e mais difícil ainda de perceber,
colocando vários mecanismos em funcionamento para não questionarmos sequer nossa
própria condição de vida, usando para isso a capacidade dos órgãos de
comunicação de insuflarem as populações com informações desnecessárias, falsas
ou manipulatórias, meias verdades e realidades ilusórias ao lado de mitos e ficções
altamente convincentes sem que nos seja dado tempo para repararmos no quão
insólitas e improváveis elas são.
Os especialistas em quem se apostava para
refletirem criticamente sobre a realidade e desmascararem os embustes
discursivos de políticos que perdidos entre uma incapacidade fenomenal para
conversarem com os movimentos populares que deveriam representar e o medo de
perderem valiosas contribuições de empresários na forma de financiamento das
suas campanhas, também se prostituem, seduzidos pela promessa improvável de
glória e reconhecimento amplos, endossando posicionamentos inverossímeis,
utilizando-se de uma objetividade científica que os isenta de qualquer
responsabilidade moral, quanto às consequências de seus pareceres, puramente
ideológicos, esqueceram-se propositadamente que com a sua intervenção, estavam apenas
contribuindo para legitimar regimes de dominação e exploração a que milhares de
pessoas estão submetidas diariamente.
Diante deste apanágio, o grito que um dia foi feito
para os trabalhadores precisa ser reeditado urgentemente:
- Mulheres e homens de todo o mundo, unamo-nos!