terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Heróis


Provavelmente algumas pessoas se questionam, sobre a razão de  tantos problemas sociais e frustrações pessoais. Para mim, apenas significa que precisamos de novos heróis, porque aqueles em que acreditávamos e nos faziam dormir o sono despreocupado de cadáveres, morreram! Ao termos decidido procurá-los nos lugares errados, ao perdermos a esperança e a vontade de mantê-los vivos, afinal, nós lhes dávamos vida em nossos sonhos disparatados de criança, antes de cometermos o erro de “crescer”.
Passamos a procurar mais longe, deixando de escolhê-los entre as pessoas do nosso quotidiano, dentre aquelas que faziam coisas aparentemente simples, mas sobre humanas e aguentavam pacientes nossas birra e paranóias, com sorrisos  compreensivos diante dos nossos acessos de rebeldia desnecessária e não desistindo de se sentirem pais, condicionados por um amor quase nunca recompensado ou reconhecido, continuando a resolver os nossos problemas a despeito de tudo e arranjando justificações para os nossos piores erros, poupando-nos pelo máximo tempo possível de assumir responsabilidades.
Eles são, por isso, os nossos verdadeiros heróis, ainda que nos tenhamos desacostumado a invocá-los e a reconhecê-los. Pensamos em nós próprios como super-humanos, matando as nossas antes saudáveis utopias, destruindo voluntariamente aquela antiga vontade de experimentar uma vida descompromissada com tudo o que não fizesse parte de nossa natureza. Abraçamos um progresso muitas vezes destrutivo e destituído de subjetividade e depois choramos, nos perguntando hipocritamente, para onde foram nossos heróis? Aqueles que negligenciamos por orgulho de uma auto-suficiência confusa e desnecessária, ou por uma  vaidade doentia e narcísica. 

domingo, 22 de janeiro de 2012

Genialidade emprestada


Um amigo disse-me uma vez que “nada impõe mais limitações a um homem do que a falta de dinheiro”. Esta é uma daquelas frases, que você reluta em atribuir a alguma pessoa viva, sobretudo se for alguém próximo, afinal, nada é mais difícil de aceitar do que a genialidade de um ente querido, principalmente se ainda polui a atmosfera contigo, nos almoços familiares e bebedeiras de fim de semana.
A frase apanhou-me desprevenido, por isso fiquei com aquele semblante de novato em praia de nudismo, que não pode admitir a própria ereção por questões de princípios e não se masturba nem mentalmente, com medo de ser descoberto.
Ao me recuperar, pensei: talvez sim, principalmente  numa sociedade capitalista, porque numa socialista, as coisas seriam diferentes. Infelizmente vivemos numa, ou em várias sociedades capitalistas, onde quem não pode comprar, normalmente não pode muitas  outras coisas e dificilmente pode dar-se ao luxo de filosofar sobre a vida, pois não lhe sobra muito tempo entre as longas e fastidiosas jornadas de trabalho.
Quando chega o final de semana, a única reflexão que faz algum sentido para ele é: a que horas é o jogo? Isso quando o peso de consciência não lhe obrigar a dar atenção à família, oferecendo possibilidades de diversão  altamente criativas, (devido a falta de recursos), porque infelizmente, aquelas jornadas semanais pouco oferecem, além de uma identidade trabalhadora precária, uma satisfação ilusória, e uma dignidade mal informada, secularizada por essa tradição que não desconfia da necessidade doentia de trabalhar apenas para pagar contas, uma refinada forma trabalho forçado, que esconde obrigações artificiais, criadas propositadamente para manter o cidadão com aquele sorriso  de dever cumprido, característico da classe “trabalhadora”, que se orgulha de estar a construir uma sociedade pretensiosamente melhor, à custa de uma dignidade alienada.
Depois de todas essas idéias disparatadas, eu cheguei a minha própria conclusão, talvez o problema nem seja a falta de dinheiro, mas a falta de tempo para pensar na própria condição de vida e a ignorância. Mas pode ser que não ter dinheiro também obrigue as pessoas a se manterem ignorantes, o meu amigo teria dito algo sobre isso.