segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Disciplina do consumo, ou consumo que nos disciplina?


O consumismo parece estar a constituir-se atualmente, como um dos maiores males da nossa sociedade, rivalizando com problemas como: superpopulação, desemprego, pobreza extrema, guerras mundiais e toda a sorte de questões, que garantem sempre uma venda lucrativa para a pomposa “grande mídia”.

Pois bem, ele parece ser agora, um mal crônico entre nós, já que a impossibilidade de consumir as porcarias vendidas como produtos essenciais para nossa ridícula existência é quase sempre vivida com um grande mal-estar, mesmo sendo coisas totalmente dispensáveis. Não se trata mais de procurar alguém para amar e partilhar o pouco de romantismo, que nossa sociedade cronicamente materialista ainda nos deixa experimentar, nem de buscar o companheirismo desinteressado e altamente desvalorizado de velhos e novos amigos, ou muito menos o afeto convenientemente tradicional de pais e filhos, enfim, qualquer coisa que tenha a aparência de gratuitidade. Muito pelo contrário, trata-se de potencializar uma vida rica em estímulos, mas infelizmente, sem profundidade alguma.

Tira-se-nos aos poucos a sensibilidade, esvaziando-nos por dentro, dessensibilizando-nos, transformando todos em corpos inertes, incapazes de experimentar verdadeiras emoções, substituindo nossa antiga capacidade de nos injuriarmos com o supérfluo, por quaisquer impressões superficiais, desprovidas de alguma excitação. Fazendo com que palavras como tesão e adrenalina, percam todo seu sentido, dando lugar a apatia, ao embotamento das emoções e à diluição da vontade de viver, que via-se manifestada na conhecida rebeldia incompreendida dos adolescentes, na marginalidade perigosa dos reacionários e nos posicionamentos necessariamente polêmicos, virulentos e radicalistas dos movimentos sociais. É isso, deixamos impavidamente, que este vírus reduza-nos cada vez mais a autômatos reprodutores de códigos vazios e sem sentido, sobrando apenas uma vida totalmente disciplinada e nada imaginativa.