terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tecnologia, casamento e solteirice

“Se casamento fosse bom, não haveriam divorciados”. Essa frase é sem dúvida de algum solteiro pretensioso, que se quer desculpar do seu egoísmo irresponsável tratando de convencer o resto do mundo de que não existe nada melhor do que essa vida desregrada e sem limites na qual a linha que separa a sensatez da irresponsabilidade é a capacidade de bancar suas próprias bebedeiras. Imagino que casados também tenham as suas frases, talvez não tão inventivas, até porque eles só têm tempo para pensar em coisas supérfluas nos quase inexistentes intervalos entre as suas tarefas de esposas diligentes, maridos compreensivos e pais atenciosos. Porém não nos esqueçamos que, ao contrário dos solteiros, eles podem orgulhar-se de darem importantes contribuições para a sociedade, pois, graças ao casamento, a família ainda é sinônimo de boa educação e delinquente juvenil é quase sempre confundido com órfão ou filho de pais ausentes, além de ter-se percebido também que ladrões, prostitutas, e drogados são pessoas que não tiveram qualquer estrutura familiar. Outra coisa de que há muito se desconfiava e que só agora se tem a certeza é que, enquanto engenheiros, médicos e advogados vêm de boas famílias; professores vêm de famílias pobres. Em suma, os casamentos ajudaram-nos a observar transformações interessantes e a encontrar explicações para fenômenos antes incompreensíveis, além de contribuirem profundamente para a desconstrução dos preconceitos mais importantes das nossas sociedades. Com o desenvolvimento alcançado nos casamentos, passamos a acreditar que gays são filhos de mães solteiras e que pedofilia e embriaguês são doenças cromossômicas.
Há poucas descobertas nas sociedades atuais que não dependem dos casamentos, por isso talvez o solteiro seja uma grande desvantagem tecnológica.

domingo, 1 de agosto de 2010

Camuflagem perfeita

Sou como a maior parte da população, um verdadeiro camaleão. Dependendo da companhia eu visto a cor da bandeira. Se estiver com políticos, meus discursos inflamados se prostituem com promessas que nunca se cumprirão. Aproveito falar das minhas convicções partidárias tendo o cuidado de defender sempre os oprimidos, pobres e desintelectualizados espalhados por aí. Faço questão de apoiar leis fascistas camufladas de vantagens para as classes desfavorecidas. Grito hipocritamente em nome de um povo sobre o qual nada conheço e de quem provavelmente fugiria se encontrasse, porque na minha ignorância de cidadão de “primeira” eu sei que eles são perigosos criminosos.
Tenho a certeza de que não me diferencio daqueles falsos intelectuais, que vociferam filosofias de botequim enquanto deixam escapar inadvertidamente o seu desprezo por quem não se instruiu, discutindo irresponsavelmente sociologismos baratos alimentados por teorias sobre quase nada e que se provam por si mesmas há séculos.
Confundo-me no meio de uma multidão preconceituosa, que pensa que deve esconder seus preconceitos sobre si mesma tentando desesperadamente manter atrás da cortina o apartheid em suas cabeças, enquanto desfilam com idéias que contrastam com sua postura quotidiana.
Não sou diferente dos homens que escondem a sua fragilidade por detrás de um cavalheirismo pretensamente machista, ou dos que vivem uma ilusória liberdade, se envenenando diariamente com uma perigosa necessidade de ignorância, assimilando realidades aparentemente irreparáveis e se conformando com um sedentarismo ideológico secular.
Normalmente me sinto uma promessa religiosa, que se cumpre apenas na esperança, porque nunca chega, entretanto, ninguém se desespera, mas sou principal e essencialmente um ser humano e acho que isso diz tudo sobre mim!
Imagem retirada do blog: http://liuleite.blogspot.com.