Pela milésima vez, alguém perguntou-me:
-
África é um país com muita miséria né?
Fiquei com vontade de gritar:
- Vai pra
puta que o pariu! Mas minha boa educação só permitiu um silencioso: vai à
merda, seu energúmeno desinformado!
Tenho que dizer, cansei-me de pessoas que
não se dão ao trabalho de avaliar os sensacionalismos noticiosos que não param
de apresentar com um pessimismo doentio e inconsequente acontecimentos corriqueiros,
ou que se esforçam em passar imagens completamente ilusórias e desinformadas de
realidades que não conhecem, tornando as pessoas cada vez mais quadradas, porque
se deixam convencer pelas novelas e programas de audiência que apresentam uma África
reduzida à pobreza.
Para princípio de corrida, é só visitar um mapa para saber que África é um dos cinco
continentes (imaginem se fosse muitos mais), não é um grande país, ou uma
enorme república ditatorial onde todos falam a mesma língua, habitada principalmente
por negros gigantescos, pretos como o breu, pouco instruídos e menos inteligentes,
preparados desde crianças para serem atletas que participam de maratonas pelo
mundo afora e que ainda precisam do paternalismo ocidental para cuidarem das
suas vidas.
Ninguém tem leões como animais de estimação acorrentados como
cachorros no fundo do quintal e os safáris não fazem parte do nosso quotidiano,
aliás, nem são áreas residenciais, mas
reservas naturais que servem para a proteção dos animais e como recurso
turístico e não um campo de férias. Por isso, não temos um único presidente nem
uma cultura africana homogênea, somos um mosaico étnico-cultural e linguístico
de nações (leia-se países) diferentes e autônomas com línguas oficiais e
constituições próprias. E se alguém viveu em árvores, deve ter sido muito antes
de termos ocupado o continente. Hoje, partilhamos e usufruímos das mesmas
revoluções tecnológicas que o resto do mundo. Temos os mesmos problemas políticos,
econômicos e sociais, que qualquer outro país e mantemos a nossa soberania
muito bem obrigado!