Nada mais nostálgico do que um aniversário depois dos 20 anos. Você volta ao tempo de criança, quando quase parece que o aniversário nem é seu. Alguém trata de organizar tudo por ti (mas não necessariamente pra ti) levando uma série de coisas que você nem sabe para que servem. A casa se enche de crianças que não conheces. Filhos de colegas e amigos, dos teus pais e enquanto todos vocês são obrigados a contentar-se com doces e salgados bem racionados na varanda, ou em qualquer lugar que não tenha nada para quebrar, os adultos se esbaldam na sala ao lado, aproveitando muito mais a festa do que dono dela, e na hora do bolo, além de seres obrigado a dividi-lo é sempre um adulto quem define o tamanho.
Todas essas recordações fazem te contorceres na cadeira, enquanto festejas com os teus amigos os teus vinte e tal, inflamado com discursos de falso orgulho por te sentires mais maduro agora que tens que trabalhar para sustentar a ti e à tua magnífica família, isso momentos antes de um dos teus amigos fazer aquela piadinha sadicamente sarcástica sobre a idade, ou uma das tuas amigas disparar maliciosamente que para pessoas “maduras” como nós, já não sobra espaço para erros, porque já não somos jovens e irresponsáveis como nos tempos de faculdade e para rematar, como se tivessem combinado fazer te sentires mal, outro, irritantemente mais jovem dá-te aquela palmadinha nas costas enquanto sussurra maliciosamente ao teu ouvido: - juventude é uma questão de espírito, como se você ainda fosse aquele adolescente ingênuo que apenas deseja para o aniversário: uma namorada ou a oportunidade de ir às matinês dançantes e perder-se na sensualidade que acabou de descobrir nas mulheres.