quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Amor à camisola

Dizem que houve um tempo em que muitos alunos queriam ser professores e  queriam aprender alguma coisa, porque tinha alguém que fazia um esforço obstinado para ensiná-los. Em que considerar os professores enciclopédias ambulantes não era um exagero, claro que foi antes da invenção do Google, quando ainda podiam dar-se ao luxo de dizer, que se não concordavam é porque estava errado e se não tinham ouvido falar é porque não existia, quando amor à camisola ainda era um argumento aceitável para qualquer profissão. Muito antes desse paraquedismo ridículo de profissionais, que tem transformado a profissão numa instância de reaproveitamento de todo o tipo de incompetências e negligências propositadas, sem contar o acobertamento da realidade de profissionais que se prostituem mentalmente para garantir uma reserva estratégica da pouca dignidade, que ainda mantêm. Pelo visto, aquela caricatura de um homem magro de tanto inventar soluções para os problemas do seu difícil quotidiano, ainda não deu lugar, ao barrigudo e bem vestido senhor, mesmo que infelizmente, a idéia romântica de homem justo, que proclama idéias libertárias na sala de aulas, intercalando com gritos revolucionários tentando problematizar todos os discursos políticos dos jornais nacionais, contestando políticas públicas recentemente divulgadas, ou debatendo-se contra a inconsistência das leis que se promulgavam diariamente, substituiu-se por um conformismo perigosamente vicioso, que algumas pessoas defendem com argumentos  convenientemente confusos. 

sábado, 26 de novembro de 2011

Vícios dos lugares pequenos



Muita gente não imagina uma das verdades mais inquientantes  sobre a vida: Se não ultrapassas os limites da tua cidade, corres o risco de pensar que não há mundo para além do lugar em que vives. Que a tua vila é a mais organizada que se pode conceber, não aprendes a revoltar-te contra o mundo e por isso, guerras mundiais não passarão de teorias conspiratórias para ti.
Demorei um pouco para entender essa idéia e mais ainda para aceitá-la, pois, meu patriotismo mal amadurecido sentia-se ofendido com uma sentença como essa. Para ser honesto, só a entendi plenamente quando fui obrigado a mudar de cidade e não só a entendi, mas também passei a apregoá-la aos meus amigos de forma entusiástica. Infelizmente, a maioria ainda ofendia-se, pois não se tinha libertado do síndrome do melhor lugar do mundo, que é basicamente negar tudo o que não seja conhecido, acreditar que respiramos o ar mais puro do planeta e estamos em contacto com a natureza,   esquecendo-nos convenientemente que aquilo é resultado de um subdesenvolvimento crônico, caminhar grandes distâncias com a crença de que é pelo bem da nossa saúde, quando na verdade, a falta de transportes públicos é a única razão. Viver apenas de uma agricultura de subsistência por causa da nossa desorganização intencional e doentia, apoiar projetos elitistas, que surgem camuflados de iniciativas de melhoramento da vida dos mais necessitados, desviando a nossa atenção do apartheid que produzimos quase voluntariamente,  justificado pela necessidade neurótica dos sobados nacionais de viverem de luxos injustificados ou mal explicados e sempre aceitando coisas com as quais não concordamos por causa de um costumeiro paternalismo que nos faz acreditar que algumas pessoas são insubstituíveis e supercompetentes, mesmo que a sua inépcia já tenha sido promovida a uma negligência propositada das coisas que a maioria das pessoas acha importantes para viver.
Por vivermos em cidades pequenas, não perdemos tempo com este tipo de idéias, que quase sempre são tomadas como conspirações planificadas deliberadamente para desfazer o suposto equilíbrio dessas nossas vilas, tão subdesenvolvidas e pedregosas quanto as nossas próprias cabeças, que se subjugam a uma realidade sobre a qual nunca se reflecte de uma maneira crítica e assim continuamos, tão pequenos quanto as nossas próprias cidades.