No dia 21 de Junho deste ano
foram presos 15 jovens angolanos pelas autoridades do país, sob a alegação de
que os mesmos estavam a preparar um Golpe de Estado. Como prova foram
apresentados alguns materiais, que seriam supostamente usados na preparação de
uma palestra na qual, diz-se, seria discutido o tema: Como derrubar um ditador. Segundo a polícia, essa apreensão é
resultante de um trabalho da inteligência angolana, contudo, o risível nesta
situação é que uma das provas é a lista de um hipotético governo de salvação
nacional, criada nas redes sociais pelo jurista Albano Pedro.
O suposto crime começou
quando os jovens decidiram dar prosseguimento ao exercício de construção da lista
sugerindo nomes para o hipotético governo, porém, o que ficou por dizer, e que
se tenta esconder do povo é: Seu crime não
foi aquele pelo qual eles foram presos (que para todos os efeitos era o
exercício do direito à liberdade de expressão), seu verdadeiro crime foi pensar
autonomamente, refletir sobre a situação social e política da sua terra, tecendo
críticas às injustiças sociais colocadas à descoberto pelo modo como vive a
maioria pobre da população, a ausência de políticas públicas efetivas, a violação
dos direitos humanos, a expatriação da dignidade de seus concidadãos, etc., seu
verdadeiro crime foi “desejar demais a
democracia”.
O mesmo Governo que apregoa
espalhafatosamente ser democrático, para quem ainda perde tempo ouvindo os
habituais discursos falastrões, que sinalizam claramente o delírio de um Estado
Autocrático, acabou dando um tiro no próprio pé, deslegitimando assim, os
argumentos de seus retratores mais fiéis, pois agora vai ser mais difícil, autoproclamar-se “livre e democrático”, quando a solução
contra opiniões dissidentes seja a privação arbitrária das liberdades
individuais como acontece no momento.
Democracia e liberdade de
expressão, diante de uma ação como esta
não passam de falácias descontextualizadas, ou que servem apenas para como
dizemos em Angola “fintar” (driblar)
a comunidade internacional. E como sempre, lá estão também as organizações que
se autodenominam representantes da comunidade civil legitimando ações
claramente criminosas. Se por ignorância pura, ou por que elas foram sequestrados
por promessas corruptoras, de todo modo, apenas demonstram a fragilidade ética
e a pobreza de espírito desta pseudo sociedade civil.
Não esqueçamos, porém, que
este sonho de liberdade, é perigosamente contagioso e epidêmico e uma vez que
as pessoas acordem para ele, torna-se cada vez mais difícil de sufocá-lo!
Foi assim nas lutas pela
independência, de que muitos desses atuais algozes participaram, ou será que se
esqueceram nossos atuais “heróis”, que houve um tempo em que eles próprios eram
esses jovens “rebeldes”, “desocupados” e acima de tudo, sonhadores?
Pois bem, aporrinharam e
acorrentaram os filhos e agora, como se não bastasse é a vez das mães, que reivindicavam
apenas o direito de ter seus filhos de volta. Considerando que as acusações
contra eles eram incertas e o estado parecia negar-lhes maliciosamente um
tratamento que tivesse a mesma justeza dos seus sonhos.
As mães dos 15 angolanos que
já sofrem com os achaques da incerteza causada pela prisão dos filhos foram
igualmente privadas do seu direito constitucional de manifestarem-se e quando
decidiram não se calar, foram brutalmente espancadas, ameaçadas fisicamente
inclusive com uso de brigadas caninas. Seu tratamento não deferiu daquele que
muitos regimes autoritários reservam aos seus cidadãos, deixando claro que a
única igualdade que oferecem é pelo tratamento degradante para todos quantos
não façam parte da elite, ou seja, a maioria da população, categoria marginal
na qual enquadraram as mães dos 15, que representam verdadeiramente todas as
mães angolanas. Essas sim representam as mulheres angolanas muito mais que
aquelas que se manifestam apenas para contrapor o direito de opor-se a um poder
hoje hegemônico no nosso querido país.
Esta Crônica é um tributo aos 15 jovens e vários outros angolanos que foram presos por tentaram manifestar sua opinião em relação ao regime no poder.
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