quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Entre os angolanos como sempre, os "mais especiais"



       Há alguns dias tive a infelicidade de dar de caras com uma notícia que trazia uma declaração no mínimo infeliz, de um governante angolano na qual aconselhava os estudantes angolanos que se encontram matriculados em universidades brasileiras, mas sem bolsas atribuídas pelo Instituto de Bolsas de Estudo do Governo da República de Angola (INAGBE), a abandonarem os seus cursos e voltarem para casa.
Bom, antes de articular minha crítica, acho pertinente dar o contexto da situação.

Angola vive desde o ano passado uma crise fiscal grave, devido (segundo o governo) à baixa do preço do barril de petróleo, que é a principal fonte de receitas do governo. Em virtude desta situação, vários outros problemas foram surgindo afetando não somente os angolanos que se encontram no país, mas também aqueles que se encontram na diáspora, dependentes de remessas vindas de Angola, como é o caso dos estudantes, não apenas no Brasil, mas em países de outros continentes, como Europa, América do Norte e Ásia.

A desvalorização do barril de petróleo levou a que se tornasse mais difícil para o governo a compra de divisas (dólar norte americano), tornando as mesmas, por conseguinte, extremamente escassas no país, dificultando o envio de dinheiro para os angolanos no estrangeiro, paralelamente à inflação galopante, que provocou a desvalorização considerável do Kwanza (a moeda angolana) em relação ao dólar.

Diante deste contexto, os estudantes no exterior passaram a ter dificuldades enormes no recebimento das remessas, pois ante toda essa situação o governo decidiu limitar a saída das mesmas por meio do envio que era feito por bancos e outras agências financeiras como Money Gramm e Western Union.

Por esta razão, vários estudantes estão em situação precária e, diferente do que a declaração do Consulado de Angola no Rio de Janeiro leva a crer, não somente os que estão cá por conta dos familiares, mas inclusive os bolsistas do governo, estão vivendo momento difíceis, que aliás, sempre sofreram com os atrasos crônicos no envio de suas bolsas pelo INAGBE (leia aqui).

A recomendação do Consulado de Angola no Rio de Janeiro não podia ser mais insensível, por que desconsidera uma série de questões, dentre as quais: que não existem “angolanos especiais”, ou seja, os que merecem continuar estudando no estrangeiro e os que não merecem.

O consulado, que deveria reconhecer o esforço dos familiares que decidiram por conta própria enviar seus filhos ao Brasil, discrimina, marginaliza e exclui, apresentando como única solução, a volta para casa.

O Consulado Geral de Angola em São Paulo, mostrando-se mais sensível, do que sua congênere no Rio, diante da situação em vez de “expulsar” os compatriotas, decidiu chamar todos os estudantes com estes problemas, para juntos procurarem soluções que contemplem “todos” e não apenas os “filhos legítimos”. Esta atitude mostrou-se assim, menos excludente e patriótica, enquanto no Rio de Janeiro, optou-se por fazer o que o governo da República de Angola se especializou. Discriminar, excluir, marginalizar e cortar os sonhos da maioria da população pobre beneficiando apenas aqueles que por um ou outro motivo são vistos como os “especiais”.


Os angolanos "mais especiais" para o Consulado de Angola no Rio de Janeiro

Há alguns dias tive a infelicidade de dar de caras com uma notícia que trazia uma declaração no mínimo infeliz, de um governante angolano na qual aconselhava os estudantes angolanos que se encontram matriculados em universidades brasileiras, mas sem bolsas atribuídas pelo Instituto de Bolsas de Estudo do Governo da República de Angola (INAGBE), a abandonarem os seus cursos e voltarem para casa.
Bom, antes de articular minha crítica, acho pertinente dar o contexto da situação.
Angola vive desde o ano passado uma crise fiscal grave, devido (segundo o governo) à baixa do preço do barril de petróleo, que é a principal fonte de receitas do governo. Em virtude desta situação, vários outros problemas foram surgindo afetando não somente os angolanos que se encontram no país, mas também aqueles que se encontram na diáspora, dependentes de remessas vindas de Angola, como é o caso dos estudantes, não apenas no Brasil, mas em países de outros continentes, como Europa, América do Norte e Ásia.
A desvalorização do barril de petróleo levou a que se tornasse mais difícil para o governo a compra de divisas (dólar norte americano), tornando as mesmas, por conseguinte, extremamente escassas no país, dificultando o envio de dinheiro para os angolanos no estrangeiro, paralelamente à inflação galopante, que provocou a desvalorização considerável do Kwanza (a moeda angolana) em relação ao dólar.
Diante deste contexto, os estudantes no exterior passaram a ter dificuldades enormes no recebimento das remessas, pois ante toda essa situação o governo decidiu limitar a saída das mesmas por meio do envio que era feito por bancos e outras agências financeiras como Money Gramm e Western Union.
Por esta razão, vários estudantes estão em situação precária e, diferente do que a declaração do Consulado de Angola no Rio de Janeiro leva a crer, não somente os que estão cá por conta dos familiares, mas inclusive os bolsistas do governo, estão vivendo momento difíceis, que aliás, sempre sofreram com os atrasos crônicos no envio de suas bolsas pelo INAGBE (leia aqui).
A recomendação do Consulado de Angola no Rio de Janeiro não podia ser mais insensível, por que desconsidera uma série de questões, dentre as quais: que não existem “angolanos especiais”, ou seja, os que merecem continuar estudando no estrangeiro e os que não merecem.
O consulado, que deveria reconhecer o esforço dos familiares que decidiram por conta própria enviar seus filhos ao Brasil, discrimina, marginaliza e exclui, apresentando como única solução, a volta para casa.
O Consulado Geral de Angola em São Paulo, mostrando-se mais sensível, do que sua congênere no Rio, diante da situação em vez de “expulsar” os compatriotas, decidiu chamar todos os estudantes com estes problemas, para juntos procurarem soluções que contemplem “todos” e não apenas os “filhos legítimos”. Esta atitude mostrou-se assim, menos excludente e patriótica, enquanto no Rio de Janeiro, optou-se por fazer o que o governo da República de Angola se especializou. Discriminar, excluir, marginalizar e cortar os sonhos da maioria da população pobre beneficiando apenas aqueles que por um ou outro motivo são vistos como os “especiais”.