segunda-feira, 13 de maio de 2013

Sobre a greve de estudantes na Unesp-Assis


A revolução começa em nossas consciências!
Esta é a frase que tenho sentido pairar na Faculdade de Ciências e Letras de Assis, desde o dia em que o “sim à greve!” tornou-se o grito de guerra adotado pelos alunos, que se no início deixavam brechas para serem atacados devido à falta de assertividade das pautas propostas e outras fragilidades, puderam mostrar com o passar dos dias, ao que vieram, ou seja, fazer legítimas suas reivindicações.
A “causa” foi assim crescendo, com um nível de organização que  transformou, gritos inócuos em vozeirões cada vez mais audíveis e assustadoramente mais coerentes; donos de uma personalidade pouco vista nos momentos atuais, onde enfraquecem à olhos vistos várias das antes fortes propostas de reivindicação de direitos sociais e políticos.
O movimento abandonou  a blogosfera, transcendeu o facebook e foi às ruas, tratando de ocupar os espaços físicos do campus e melhor ainda, ocupando as cabeças dos alunos, obliteradas por medos compreensíveis da autocracia de alguns docentes e mostrou algo, que há muito parecia perdido: solidariedade. Os estudantes do campus de Assis uniram-se, com suas reivindicações mais do que justas e a seguir, galoparam ao encontro dos confrades de outros campi da Unesp. Logo, logo, mostraram ao Estado e com um pouco de sorte, ao mundo, que não estão adormecidos para as injustiças sociais, que a implicação e a resistência não foram totalmente perdidas e ainda há, por isso, motivos para acreditar na esperança como uma virtude sobre a qual vale a pena construir utopias com potencial inimaginável para se tornarem causas que justifiquem a ocupação de todas as faculdades do país e do mundo, ou para reivindicar o lugar social e político que nos está sendo sistematicamente retirado.
Outro aspecto interessante, foram os brados que se recusaram a calar e falaram tanto contra como a favor. Infelizmente,  muitas vezes as vozes contrárias foram recebidas com animosidade, paradoxalmente, ainda conseguiu-se garantir um exercício doloroso, mas sério de democracia. Todos, na medida do possível, puderam participar e opinar; e mesmo que várias críticas ainda possam ser costuradas, imagino que não seria leviano afirmar ter havido votações o mais justas possíveis.
Se essa não for uma lição de democraticidade experimentada pelos alunos, que se possa legitimá-la ao menos, como uma experiência sui-gênere, afinal, foi uma interessante demonstração de responsabilidade e se não; por tudo o resto, acho que os alunos merecem o devido reconhecimento e respeito.
Sem cair no erro de parecer um glorificador ingênuo da causa, gostaria também de participar, como posso, para dizer que as revoluções não se sustentam por elas mesmas e por isso, uma logística de alternativas deve também fazer parte do processo, propiciando ao contrário de uma radicalização desnecessária de frentes, uma oportunidade de reflexão que leve como consequência à mudança de cenários, sempre que se mostre estrategicamente necessário.
Por fim, desejo, que esta seja (tal como suponho que espera a maioria), uma verdadeira revolução dos modos de pensar nossas realidades sociais, econômicas, políticas e históricas, que transcenda a satisfação de desejos e vaidades individuais.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Por quê trabalhar?


Tenho um amigo que faz muitas viagem para a vida e por isso, surpreende-me frequentemente com novas barbaridades teóricas. Acho que para os que leem esse blog sabem a quem me refiro. Pois então, agora ele voltou a deixar minha ignorância à descoberto, ao dizer-me que as formas instituídas de trabalho, como o emprego, por exemplo, são com certeza uma das maneiras mais perniciosas de exploração e violação dos direitos humanos.
A princípio eu recusei-me a admitir que isso pudesse ser verdade, pois como a maioria das pessoas da minha época, cresci ouvindo constantemente ideias, que faziam o trabalho parecer uma das poucas estéticas de vida aceitável, ao lado de outras balelas estruturantes das nossas realidades ilusórias (casamento, identidades de gênero e sexo, superioridade rácica, classes sociais, doenças mentais, justiça social, etc), que existem sob o véu de verdades universais, aliás, uma pretensão absurda, descabida e totalmente irrefletida.
Deste modo, dizia meu amigo, quase enfurecido:
- Começamos muito cedo a acreditar, que ele dignifica o homem, mas esconderam convenientemente, que os valores que se seguem, hoje em dia, como a competitividade e urgência, obrigam-nos a digladiar constantemente com nossos semelhantes, por uma vaga de emprego, uma promoção, um aumento irrisório no salário, etc., tornando-nos piores que animais selvagens.
Também quiseram que pensássemos, que ele é um direito universal, porém, esqueceram de nos dizer, que sempre existirá, por questões estratégicas do modo de produção capitalista, um exército de reserva de mão-de-obra desempregada, para manter equilibrada a roda da oferta e procura; e pensando agora, talvez esse seja na  verdade o único meio de participação social e política, a que a famigerada classe trabalhadora poderá ter acesso, numa sociedade onde nada mais faz-se por ela, além de esvaziar-lhes sua força de trabalho, ou expropriar sua autonomia de formas vergonhosamente degradantes e alienantes, movendo-se na contra-corrente de um presunçoso projeto de autorrealização e autoprodução de sujeitos, que ironicamente sustenta-se, ser apenas possível pelo trabalho. E para não contestá-lo com o argumento de que com o trabalho, pelo menos obtêm-se condições para comprarem o que precisam, meu amigo, fez-me ver com sua arrogância argumentativa, que na verdade, o que acontecia era ainda mais degradante, por que ao contrário do que se pensa comumente, com a lógica atual do trabalho formavam-se consumidores e não trabalhadores. O trabalho transformou-se em produtor de demandas consumista de tal forma que hoje trabalhamos essencialmente para consumir, pois essa é a atitude que sustenta o modo de produção capitalista. E assim, capitalizou-se tudo à nossa volta: nossos afetos, prazeres, ambições, lazer, em suma, nossa subjetividade e quem tenta produzir um modo diferente de existência é logo posto à parte.