A
revolução começa em nossas consciências!
Esta
é a frase que tenho sentido pairar na Faculdade de Ciências e Letras de Assis,
desde o dia em que o “sim à greve!” tornou-se o grito de guerra adotado pelos alunos,
que se no início deixavam brechas para serem atacados devido à falta de
assertividade das pautas propostas e outras fragilidades, puderam mostrar com o
passar dos dias, ao que vieram, ou seja, fazer legítimas suas reivindicações.
A
“causa” foi assim crescendo, com um nível de organização que transformou, gritos inócuos em vozeirões cada
vez mais audíveis e assustadoramente mais coerentes; donos de uma personalidade
pouco vista nos momentos atuais, onde enfraquecem à olhos vistos várias das
antes fortes propostas de reivindicação de direitos sociais e políticos.
O
movimento abandonou a blogosfera,
transcendeu o facebook e foi às ruas, tratando de ocupar os espaços físicos do
campus e melhor ainda, ocupando as cabeças dos alunos, obliteradas por medos
compreensíveis da autocracia de alguns docentes e mostrou algo, que há muito
parecia perdido: solidariedade. Os estudantes do campus de Assis uniram-se, com
suas reivindicações mais do que justas e a seguir, galoparam ao encontro dos
confrades de outros campi da Unesp. Logo, logo, mostraram ao Estado e com um
pouco de sorte, ao mundo, que não estão adormecidos para as injustiças sociais,
que a implicação e a resistência não foram totalmente perdidas e ainda há, por
isso, motivos para acreditar na esperança como uma virtude sobre a qual vale a
pena construir utopias com potencial inimaginável para se tornarem causas que
justifiquem a ocupação de todas as faculdades do país e do mundo, ou para
reivindicar o lugar social e político que nos está sendo sistematicamente
retirado.
Outro
aspecto interessante, foram os brados que se recusaram a calar e falaram tanto
contra como a favor. Infelizmente, muitas
vezes as vozes contrárias foram recebidas com animosidade, paradoxalmente, ainda
conseguiu-se garantir um exercício doloroso, mas sério de democracia. Todos, na
medida do possível, puderam participar e opinar; e mesmo que várias críticas
ainda possam ser costuradas, imagino que não seria leviano afirmar ter havido
votações o mais justas possíveis.
Se
essa não for uma lição de democraticidade experimentada pelos alunos, que se
possa legitimá-la ao menos, como uma experiência sui-gênere, afinal, foi uma
interessante demonstração de responsabilidade e se não; por tudo o resto, acho
que os alunos merecem o devido reconhecimento e respeito.
Sem
cair no erro de parecer um glorificador ingênuo da causa, gostaria também de
participar, como posso, para dizer que as revoluções não se sustentam por elas
mesmas e por isso, uma logística de alternativas deve também fazer parte do
processo, propiciando ao contrário de uma radicalização desnecessária de
frentes, uma oportunidade de reflexão que leve como consequência à mudança de
cenários, sempre que se mostre estrategicamente necessário.
Por
fim, desejo, que esta seja (tal como suponho que espera a maioria), uma
verdadeira revolução dos modos de pensar nossas realidades sociais, econômicas,
políticas e históricas, que transcenda a satisfação de desejos e vaidades
individuais.