segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Cultura do fracasso. Por quê não?


Enquanto surfava pela internet, fingindo que procurava alguma coisa importante, me concentrando muito sério, de cada vez que entrava inadvertidamente nalgum site “’proibido”, para desviar a atenção de quem tentava monitorar o conteúdo das páginas que eu visitava, pela expressão do meu rosto; tropecei numa notícia desoladora num site de notícias: Fracasso escolar e vergonha levam estudantes ao suicídio na China”. Fiquei ainda mais pasmo com as estatísticas que o artigo apresentava; 287 mil pessoas se suicidam anualmente naquele país. E tudo por quê?
Fracasso! Simples assim.
Essas pessoas se sentiam fracassadas, algumas delas eram adultos, jovens e até crianças e adolescentes. Pensei comigo mesmo, aí está, uma das consequências dessa história de valorizar os acertos mais do que os erros, premiar as conquistas que sabem à vitória e emergem do nosso atroz quotidiano no qual somos obrigados a aniquilar colegas, amigos, familiares, enfim, pessoas que se deixássemos, com certeza acrescentariam testemunhos interessantes às nossas vidas descoloridas, por causa da ganância obsessiva com o primeiro lugar.
Somos premiados para não fracassar, ou pior, para fracassar jamais! Um imperativo tão custoso quanto fatídico, como no caso dos exemplos degradantes que a notícia nos reporta. Ali falava da China, mas não faltam exemplos nos vários recantos do mundo.
Estes suicídios deixam uma clara e assombrosa mensagem, a respeito do que temos produzido através daquelas práticas sociais que sancionam comportamentos como a competitividade, a agressividade, a busca de resultados sem preocupação com os meios, a exploração até a exaustão das potencialidades das pessoas em nome da necessidade de acompanhar as transformações sociotécnicas (como se isso fosse possível de alguma forma), a abreviação da infância, ou sua substituição por uma vida prematuramente adulta, etc., aliás, nossas crianças aprendem cedo que fracassar é garantir de modo inescrupuloso, sua exclusão do mundo social. Infelizmente, é neste ínterim que também acaba se criando a oportunidade ideal para os palpites pseudocientíficos dos autores da literatura de autoajuda, que fazem proliferar títulos como: 8 passos para o sucesso, 10 dicas para não fracassar, Em busca da excelência, etc., prestando um desserviço ao ensinar fórmulas reducionista sobre tudo, como se a vida se restringisse a medidas ortopédicas. Perdemos tempo procurando pílulas que aumentam a produtividade, diminuem nossa sensibilidade aos problemas pessoais e coletivos; tudo em vista de uma coisa chamada de sucesso.
Por quê o sucesso é tão valorizado? Qual o problema de errar em vez de acertar? Aliás, errar às vezes resulta em descobertas importantes, como a história nos tem ensinado.
O que tem de saudável, por exemplo, fazer os pais de primeira viagem pensarem que deviam saber tudo sobre como cuidar dos filhos recém-nascidos, nos esquecendo convenientemente de sua inexperiência, deixando-os desesperados por que não sabem nada sobre crianças e desconsiderando que este é um aprendizado que se faz na prática? Ou que vantagem existe em sobrecarregar nossas crianças ainda no jardim de infância com atividades que exigem uma destreza injustamente maior do que aquela que eles são capazes de demonstrar, apenas por causa dos demagogos que apregoam o sucesso a qualquer custo?
As notícias sobre suicídio de jovens devido ao suposto fracasso em várias esferas da vida demonstram de forma assustadora as consequências de uma ditadura irrefletida do sucesso.
O custo é elevado, está visto e manter-se omisso em relação às perdas, tem custado um preço alto para muitas pessoas e não raro a própria vida!