segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Anormal como a maioria


Tenho a impressão de que hoje em dia, a normalidade é uma epidemia, uma doença, que se espalha de forma descontrolada, causando entre outras coisas, uma despreocupação crônica com a realidade, uma falta de sensibilidade em relação a tudo que acontece longe do nosso quintal, nos mantendo anestesiados diante das notícias que usam a desgraça alheia como meio para aumentar a audiência e faz as pessoas sujeitarem-se a viver numa uniformidade induzida pela necessidade desesperada de conforto e segurança. Os poucos que se deram conta disso tentam por esforços isolados automedicar-se com atividades que quase sempre são atestadas como desviantes, marginais, ou ainda, comportamentos indesejáveis e potencialmente perturbadores da ordem social e quando isso acontece, temos os psiquiatras e psicólogos, prestando, de forma “abnegada”, o seu trabalho, catalogando e psicopatologizando todos esses comportamentos através de diagnósticos, descrições de doenças e sintomas propositadamente inacessíveis aos leigos, atestando dessa forma a autenticidade dos seus pareceres e reafirmando a sua autoridade médica.
Para garantir a certificação dessas teorias, os cientistas se põe solicitamente ao serviço da sociedade, promovendo pesquisas supostamente objetivas, que servem não só para comprovar a veracidade dos diagnósticos, mas para dar o cunho de verdade, que ainda esteja em falta nalgumas formas de atuação dos profissionais envolvidos na árdua tarefa de manter esse obsessivo padrão de normalidade. Algumas vezes abrem-se convenientes exceções nestas teorias para descongestionar as cabeças de algumas pessoas do peso de consciência gerado por medidas impopulares ou guerras injustificadas, servindo também para racionalizar sobre a legitimidade e a lisura de suas intenções. Assim, enquanto vivermos nessa normalidade patológica, não faltarão minorias descriminadas, mas esperemos que pelo menos isso sirva para nos lembrarmos do seguinte: a normalidade é cultural e relativa!

domingo, 4 de dezembro de 2011

O último revolucionário


Ninguém é mais revolucionário do que um recém nascido, ele não tem medo de nada, é tão corajoso que lembra os heróis dos filmes épicos, que não se importam com o risco, apenas vão à luta e praticamente atiram-se às espadas alheias guardando para si mesmos, apenas a promessa de uma morte honrada e patriótica. Eles também são um bom exemplo de como deve ser uma verdadeira democracia, onde os menores são servidos pelos maiores. As pessoas trocam-lhes as fraldas, dão-lhes de comer e os protegem com uma abnegação admirável, eles sim, exercem o seu direito à liberdade de expressão e isso talvez seja o mais fascinante, não se deixam enganar e berram, literalmente sempre que sentem os seus direitos desrespeitados. Infelizmente, enquanto crescemos, desaprendemos todas essas coisas  e nos deixamos convencer que deixar de exigir os nossos direitos é falta de educação, ou ficamos melindrados com justificações incoerentes sobre a prestação medíocre da governança, que se defende com o nosso desinteresse na participação da vida pública, ou com a nossa ignorância sobre o funcionamento de algo tão complexo, quanto a máquina organizativa do Estado, que é com certeza muito diferente de tudo o que estamos acostumados a gerir, mas quando essa falácia já não é suficiente, nos convencem que somos especiais e que isso é a única coisa que realmente importa, apenas para não berrarmos tanto quanto crianças birrentas dispostas a fazer passeatas, marchas e manifestações que ameaçariam aquilo que eles consideram segurança pública, que nada mais é do que uma tranqüilidade ilusória, já que tudo que a mantém depende de uma formatação generalizadas e propositada das nossas cabeças, algo que é alimentado por uma ignorância crônica e um medo injustificado de berrar que nem bebês, afinal, eles são o último de exemplo de um verdadeiro revolucionário.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Amor à camisola

Dizem que houve um tempo em que muitos alunos queriam ser professores e  queriam aprender alguma coisa, porque tinha alguém que fazia um esforço obstinado para ensiná-los. Em que considerar os professores enciclopédias ambulantes não era um exagero, claro que foi antes da invenção do Google, quando ainda podiam dar-se ao luxo de dizer, que se não concordavam é porque estava errado e se não tinham ouvido falar é porque não existia, quando amor à camisola ainda era um argumento aceitável para qualquer profissão. Muito antes desse paraquedismo ridículo de profissionais, que tem transformado a profissão numa instância de reaproveitamento de todo o tipo de incompetências e negligências propositadas, sem contar o acobertamento da realidade de profissionais que se prostituem mentalmente para garantir uma reserva estratégica da pouca dignidade, que ainda mantêm. Pelo visto, aquela caricatura de um homem magro de tanto inventar soluções para os problemas do seu difícil quotidiano, ainda não deu lugar, ao barrigudo e bem vestido senhor, mesmo que infelizmente, a idéia romântica de homem justo, que proclama idéias libertárias na sala de aulas, intercalando com gritos revolucionários tentando problematizar todos os discursos políticos dos jornais nacionais, contestando políticas públicas recentemente divulgadas, ou debatendo-se contra a inconsistência das leis que se promulgavam diariamente, substituiu-se por um conformismo perigosamente vicioso, que algumas pessoas defendem com argumentos  convenientemente confusos. 

sábado, 26 de novembro de 2011

Vícios dos lugares pequenos



Muita gente não imagina uma das verdades mais inquientantes  sobre a vida: Se não ultrapassas os limites da tua cidade, corres o risco de pensar que não há mundo para além do lugar em que vives. Que a tua vila é a mais organizada que se pode conceber, não aprendes a revoltar-te contra o mundo e por isso, guerras mundiais não passarão de teorias conspiratórias para ti.
Demorei um pouco para entender essa idéia e mais ainda para aceitá-la, pois, meu patriotismo mal amadurecido sentia-se ofendido com uma sentença como essa. Para ser honesto, só a entendi plenamente quando fui obrigado a mudar de cidade e não só a entendi, mas também passei a apregoá-la aos meus amigos de forma entusiástica. Infelizmente, a maioria ainda ofendia-se, pois não se tinha libertado do síndrome do melhor lugar do mundo, que é basicamente negar tudo o que não seja conhecido, acreditar que respiramos o ar mais puro do planeta e estamos em contacto com a natureza,   esquecendo-nos convenientemente que aquilo é resultado de um subdesenvolvimento crônico, caminhar grandes distâncias com a crença de que é pelo bem da nossa saúde, quando na verdade, a falta de transportes públicos é a única razão. Viver apenas de uma agricultura de subsistência por causa da nossa desorganização intencional e doentia, apoiar projetos elitistas, que surgem camuflados de iniciativas de melhoramento da vida dos mais necessitados, desviando a nossa atenção do apartheid que produzimos quase voluntariamente,  justificado pela necessidade neurótica dos sobados nacionais de viverem de luxos injustificados ou mal explicados e sempre aceitando coisas com as quais não concordamos por causa de um costumeiro paternalismo que nos faz acreditar que algumas pessoas são insubstituíveis e supercompetentes, mesmo que a sua inépcia já tenha sido promovida a uma negligência propositada das coisas que a maioria das pessoas acha importantes para viver.
Por vivermos em cidades pequenas, não perdemos tempo com este tipo de idéias, que quase sempre são tomadas como conspirações planificadas deliberadamente para desfazer o suposto equilíbrio dessas nossas vilas, tão subdesenvolvidas e pedregosas quanto as nossas próprias cabeças, que se subjugam a uma realidade sobre a qual nunca se reflecte de uma maneira crítica e assim continuamos, tão pequenos quanto as nossas próprias cidades.

domingo, 30 de outubro de 2011

Hospitais são lugares sombrios

Que hospitais são lugares sombrios, todos sabemos, e principalmente se considerarmos o seu quotidiano e a forma como os agentes de saúde exercem a sua autoridade, sem medo de serem repreendidos e aparentemente sem sequer uma consciência que os mobilize a evitarem que os paciente se sintam responsáveis por um adoecimento que é uma fatalidade, um evento natural, uma espécie de inevitabilidade fisiológica. Na minha terra, costumo ouvir as  mais variadas histórias sobre assombrações noturnas e manifestações de fenômenos dificilmente explicáveis pela lógica humana, mas isso em geral não me assusta tanto, afinal, o quotidiano africano está povoado destas histórias sejam elas dentro ou fora dos hospitais, mas já não vejo com a mesma leveza, o tratamento dos pacientes, porque ainda que a barbárie com que se tratam os doentes se tenha tornado um lugar comum, é mais difícil de aceitar, pois diferente de uma crença alimentada pelo nosso misticismo crônico, trata-se de mostrar o mínimo de humanidade com os outros. É também exercício de profissionalismo e responsabilidade pelo resultado positivo de seu trabalho.

Com certeza nunca ninguém quis adoecer, mas hoje, a idéia de ter que entrar para um hospital torna a pessoa mais fragilizada, pois tem que preparar-se para as humilhações médicas, para o descaso perante o seu sofrimento e para um tratamento abjecto, ou seja, a pessoa nem mais é reconhecida como alguma coisa, é um nada que importuna o merecido descanso do enfermeiro e a sábia concentração do médico.

Ninguém nega a importância deste serviço e exactamente por isso as pessoas ainda se sujeitam ao deplorável tratamento que recebem, às vezes mesmo em clínicas privadas, desde diagnósticos viciados a tratamentos abusivos. E nestes casos, mesmo quando a esperança já não parece uma virtude necessária ainda vivemos dela, apenas para justificar a nossa mísera existência que depende cada vez mais de profissionais aparentemente sem o menor respeito pela vida e dignidade humanas e o pior é que agora até as excepções dependem de um absurdo nepotismo.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mitos perigosos


Hoje acordei com uma grande vontade de descobrir a verdade por detrás daqueles mitos que se eternizam no nosso seio, entender a sua importância e porque continuam a motivar comportamentos irracionais mesmo no nosso tempo, que é até considerado altamente desenvolvido, pois segundo a crença geral, nunca tivemos tantos recursos disponíveis quanto agora, o que não deixa de ser um verdadeiro mito. Afinal, as sociedades sempre atingiram altos picos de desenvolvimento tecnológico e humano. E quase sempre esse foi exactamente  o seu Calcanhar de Aquiles. Cada fase de ouro, que caracterizava as civilizações antigas foi o prenúncio de um grande cataclismo. Impérios desintegraram-se, civilizações inteiras desapareceram, reinos desmoronaram, deixando apenas como prova de sua implosão, hipóteses duvidosas de sua existência.
Foi assim com os Astecas, com os Maias, com o Império Romano e até com o reino do Congo. Porém, queremos convencer-nos de que hoje temos métodos para tornar as nossas ditaduras mais duradoiras e supõe-se que toda a modernice dos exércitos actuais será uma apólice de seguro eterna. Que prisões e mortes clandestinas evitarão que cadeiras sejam desocupadas desavisadamente ou que o povo faça um levante de forma inesperada, o que nos leva a outro mito: “A massa é burra, não pensa por conta própria”. Engana-se quem acredita nisso e também quem acredita que ela é inerte como uma rocha, pelo contrário, é como uma lava vulcânica que jaze pacientemente adormecida, apenas a espera do limite. Apenas a espera do momento para acordar (transbordar) e fazer alguma coisa a respeito e quando isso acontecer vai ser uma verdadeira catástrofe, aliás, tem sido assim em outros lugares há milênios, foi assim recentemente na febre dos países árabes, quando outro mito foi destronado: “A religião é o ópio do povo”, porque apesar de muito religiosos eles não pareceram dopados quando reclamaram pela dignidade que há muito lhes havia sido usurpada, fazendo-nos pensar quase instantaneamente que também a idéia: “Pobre não tem dignidade” é outro mito facilmente destrutível, pois, logo ficou claro que apenas pobres de espírito não têm dignidade, ou contentam-se em tê-la tão pouca que acabam não reivindicando. E dessa forma eu espero para bem dessa pequena aldeia da humanidade, que vários outros mitos que nos paralisam e nos fazem pensar de forma tão diminuída sejam paulatinamente derrubados e o maior de todos eles, seja também o mais brutalmente atacado, porque sinceramente, é inadmissível que “A ignorância possa ser uma benção”.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Meu amigo gordo

Eu tenho, um amigo gordo, que circula de dieta em dieta, tentando chegar ao corpo iedial. Eu acho que gostaria de dizer-lhe que não existe tal coisa, que é pura ilusão criada por propagandas enganosas, mas ele não acreditaria  em mim, pois tenho o corpo que ele gostaria, então,  quando ele está triste e deprimido por não conseguir subir cinco degraus sem que seu corpo pareça estar a entrar em colapso, eu me sento ao seu lado, solidariamente, fingindo hipocritamente uma dor qualquer, sem peso de consciência, tal como acontece em muitas outras circunstâncias em que essa  falsidade  nos coloca  à salvo da nossa covardia, sorrindo quando queremos chorar, abraçando quando temos uma grande vontade de esganar, ou escondendo os nossos desejos sexuais com cantadas superficiais ou mais triste ainda, aplaudindo discursos xenôfobos  e facistas, justificando essa atitude com um falso racionalismo e desculpas que jamais admitiaríamos de outros. Infelizmente, meu país tambpém está povoado de pessoas parecidas ao meu amigo, que precisam dessa charlatanice para continuarem a viver confortavelmente a sua mórbida ignorância satisfazendo-se com uma palmadinha solidária de vez em quando e deixando-se enganar pela aparente tranquilidade da situação. E como não podia deixar de ser, também tem outros parecidos à mim, com meu senso de humanidade decadente que pensam (se é que realmente são capazes disso) que sua “humilde” hipocrisia é uma questão de bom senso.

sábado, 27 de agosto de 2011

Narcisistas apaixonados

Há alguns dias estava a pensar naqueles momentos em que se vive que nem um vegetal, sem sair do sofá, sozinho, alimentando-se de objetivos quase inalcansáveis de sonhos que dificilmente se materializarão e de programas que praticamente vendem-se ao diabo por audiência, em que fala-se sobre tudo o que não é importante, ou é considerado fútil pelas mesmas pessoas que assistem apenas para levantar sua auto-estima, já que com personagens bizarras tentam convencer a audiência que sua auto-estima é o seu maior património. De tanto assistir a estes programas  já me convenci que preciso ser sempre o mais bonito, o mais inteligente, o mais capaz, o mais etc., já que ser menos alguma coisa pode ser um quadro grave de baixa auto-estima. Felizmente, já existe cura e para os casos crônicos, até um tratamento, que “apenas” exige que compremos o nosso bem estar de todas as maneiras possíveis. – Gastando aquelas horas ociosas nos fantasiando de príncipes e princesas, ou barbies em tamanho natural, tentando garantir a auto-estima com esquemas de beleza que não duram mais do que 15 minutos, ou escondendo nosso medo de paracer ignorantes com discursos ensaiados e títulos desnecessários, que apenas nos tornam especialistas nas coisas que não nos fazem a menor falta; e quando isso não bastar, sempre nos sobram os programas de domingo à tarde que parecem livros de auto-ajuda já que nos deixam cada vez mais apaixonados por nós mesmos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Para que servem os momentos constrangedores

Estava a pensar na importância dos momentos constrangedores, para que servem aquelas situações em que temos vontade de nos enterrar de tanta vergonha. Sem dúvida que é bem melhor quando se passam com outras pessoas. Como naquela palestra em que minha amiga, armada em sabichona, decidiu corrigir o palestrante, que tinha usado curricula como plural de curriculum, a fulana não resistiu, quiz aproveitar a oportunidade para mostrar que era tão inteligente quanto aquele professor com títulos que quase faziam a calvice parecer algo menos importante. Ele, com aquela solicitude de gente que sabe exatamente o que faz, deu um sorriso antes de explicar com uma simplicidade humilhante como todas as palavras que terminavam daquela forma no plural não usavam o ‘S’, era o caso de curricula em vez de currículos, fora em vez de fóruns e várias outras. Sem dúvida não houve na sala quem não pensasse silenciosamente: ainda bem que mantive a minha boca calada, ou que ser ignorante pode ajudar a evitar situações potencialmente embaraçosas. Porém, engana-se quem pensa que é sempre assim,  já passei vergonha por não  saber o que escolher no cardápio, decidi pelo comum arroz com feijão – claro que não foi nada dignificante ouvir o garçon dizer com uma educação quase doentia: - Não servimos este prato por aqui! Quando voltei ao restaurante com vontade de impressionar uma certa menina, o mesmo garçon lá estava de novo e com aquele sorriso de quem não ia perder a oportunidade de dar uma boa gargalhada às minhas custas chegou devagarzinho e disse quase sussurrando: - Já temos arroz, apenas não temos o feijão! Nessa altura aprendi que não se deve voltar para o lugar do acontecimento constrangedor senão depois de passar um tempo razoável, de preferência depois que até mesmo você já se tenha esquecido do ocorrido, para evitar aquela neurose que te levará de volta ao dia vergonhoso. É bom quando essas coisas acontecem sem que ninguém nos tenha visto, é quase uma benção; e se tiver alguém por perto, de preferência que seja um desconhecido, porque senão aqueles olhos de pena que te acompanharam no dia ‘D’, não vão parar de te assombrar. Mas tenho tido umas boas lições de tudo isso, com a minha minha amiga, por exemplo, descobri que zangar-se com as pessoas que presenciaram a cena, não vai resolver, normalmente tende a agravar a situação, por isso o melhor mesmo é rires de ti mesmo. Ser sua própria plateia e te divertires com as tuas próprias imperfeições.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Por que odeio aniversários

Nada mais nostálgico do que um aniversário depois dos 20 anos. Você volta ao tempo de criança, quando quase parece que o aniversário nem é seu. Alguém trata de organizar tudo por ti (mas não necessariamente pra ti) levando uma série de coisas que você nem sabe para que servem. A casa se enche de crianças que não conheces. Filhos de colegas e amigos, dos teus pais e enquanto todos vocês são obrigados a contentar-se com doces e salgados bem racionados na varanda, ou em qualquer lugar que não tenha nada para quebrar, os adultos se esbaldam na sala ao lado, aproveitando muito mais a festa do que dono dela, e na hora do bolo, além de seres obrigado a dividi-lo é sempre um adulto quem define o tamanho.
Todas essas recordações fazem te contorceres na cadeira, enquanto festejas com os teus amigos os teus vinte e tal, inflamado com discursos de falso orgulho por te sentires mais maduro agora que tens que trabalhar para sustentar a ti e à tua magnífica família, isso momentos antes de um dos teus amigos fazer aquela piadinha sadicamente sarcástica sobre a idade, ou uma das tuas amigas disparar maliciosamente que para pessoas “maduras” como nós, já não sobra espaço para erros, porque já não somos jovens e irresponsáveis como nos tempos de faculdade e para rematar, como se tivessem combinado fazer te sentires mal, outro, irritantemente mais jovem dá-te aquela palmadinha nas costas enquanto sussurra maliciosamente ao teu ouvido: - juventude é uma questão de espírito, como se você ainda fosse aquele adolescente ingênuo que apenas deseja para o aniversário: uma namorada ou a oportunidade de ir às matinês dançantes e perder-se na sensualidade que acabou de descobrir nas mulheres.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Minha modesta honestidade

Às vezes acordamos com a idéia de que somos  melhores que todos os outros que conhecemos – mais inteligentes e generosos, mais solidários e honestos, etc., o que nem é errado, afinal faz parte da nossa vaidade narcísica e desde que não contemos à ninguém que pensamos tudo isso, não precisámos de nos preocupar. O importante mesmo é manter em segredo esse orgulho que apesar de muito saudável pode ser mal interpretado fazendo-nos parecer arrogantes ou porcos chauvinistas se formos homens. Por isso, quando essa convicção se torna forte demais, decidimos fazer alguma coisa para provar como somos tão bons camaradas, como nos preocupamos com o resto do mundo. Então começamos por aqueles gestos que na maioria das vezes não fazem a menor diferença como apagar o cigarro antes de jogá-lo ao chão, esvaziar completamente a lata de refrigerante antes de tentar um arremesso falho na lata delixo, que até não está tão distante, ou colar o chiclete debaixo do banco para que ninguém pise nele. Nestes momentos nos sentimos orgulhosos porque temos a certeza de estarmos a fazer coisas que não dependem apenas do bom senso mas que se devem principalmente a nossa magnífica mente intelectual e consciência de que é com gestos insignificantes que evitamos grandes catástrofes como o aquecimento global, degelo dos glaciares, fome mundial, etc, mesmo sem saber exactamente como é que isso acontece, até porque os órgãos de comunicação não param de falar desses heróis invisíveis de que o mundo precisa, que participa de lutas políticas e se diz neutro, grita palavras de ordem que nem ele mesmo entende, na maioria das vezes e sobre as quais não se perguntou o essencial.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Passado, tecnologia e saudade

Todos acharam que o mundo seria melhor, depois do século XIX, com a torrente de descobertas e mudanças de crenças mesmo em relação àquelas coisas em que isso parecia impossível. Surgiram idéias arrojadas e as pessoas esqueceram momentaneamente aquela arrogância religiosa, que considerava heresia, tudo o que a sua sagrada ignorância não deixava entender. O mundo tornou-se um laboratório da ciência e nada mais podia ser anormal, apenas: pouco estudado, com resultados inconclusivos ou parte inicial de pesquisas ainda em andamento. E enquanto os nossos cientistas se propunham a mudar por completo todo o sistema de coisas que conhecíamos - resultado da nossa parca compreensão do mundo -, o próprio homem deixou de ser, aos olhos desses mestres-cuca, aquele que caminhava em direção a algum lugar transformando-se num paradigma heurístico dos processos biopsicossociológicos, que só agora dava aqueles passos tão necessários em direção à perfeição.
A maior parte passou a acreditar entusiasticamente, que se tinha sido possível evoluir até ao homo-sapiens, é porque estávamos destinados a muito mais.
Na verdade evoluímos, mas ainda precisamos de um cérebro maior para absorver todas as obscenidades, que a sociedade atual produz, ou um corpo assexuado, o que daria o suporte biológico necessário para fazer a humanidade compreender, que a emancipação da mulher é antes de tudo uma necessidade evolucionária. Sem dúvida precisaríamos também de escamas para proteger-nos da destruição da camada de ozônio e livrar-nos das emoções que tanto atrapalham na tomada de decisões, mas o melhor de tudo seria banir definitivamente o contato físico, o que nem seria difícil, já que os celulares, junto com outras facilidades como a internet têm-nos ajudado muito a perceber como ele é desnecessário e dispendioso. Talvez não tarde muito para que várias outras coisas possam ser feitas por essa via, afinal, já temos o sexo virtual, uma forma de relacionamento moderna, que tem facilitado muito a vida social do ser humano. Menos constrangedor, menos sujo e sem dúvida, mais saudável e seguro.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Não mais que um livro (Ganas de intelectual)

Às vezes quando eu tenho anseios de parecer intelectual aos olhos das pessoas, vou andando com um livro qualquer debaixo dos braços, e de vez em quando se estou em algum lugar em que posso folhear quase desinteressadamente o mesmo, eu aproveito. Seja num autocarro lotado, dividindo aquela cadeira desconfortável com algum vizinho meio adormecido pelos embalos do veículo, ressonando de maneira vergonhosa depois de transformar um cochilo inocente numa soneca que reivindica uma vida melhor e vários direitos supostamente naturais; ou mesmo em pé, apenas apoiado numa daquelas barras exageradamente altas e trocando cariciais involuntárias com outros passageiros nos solavancos constantes, motivados pelo asfalto irregular e paragens propositadamente bruscas dos motoristas, ou ainda em algum parque que escolho enquanto caminho errático nesta estranha cidade já saturada de estrangeiros que dividem as suas maneiras entre um sotaque nativo sofrível que já não deixa saber a sua origem e uma necessidade quase neurótica de afirmarem sua própria identidade. Finjo compreender o que leio, com minha testa franzida de propósito para parecer que não presto atenção ao que se passa à minha volta, evitando que a minha curiosidade por assuntos supérfluos me atrapalhe. Assim, evito ver a moça que quase tem um orgasmo enquanto fala ao telefone, deixando as casadas ruborizadas de vergonha, provocando nas mulheres de meia-idade aquele olhar ufano e nostálgico e nos rapazes uma vontade enorme de se masturbarem de inveja, com a gula transparecer-lhes nos olhares sorrateiros que trocam entre si. Também faço de contas que não ouço as conversas de comadre, que se multiplicam sem a menor preocupação em esconder os detalhes das histórias que trocam nos breves momentos em que velhas conhecidas se cruzam. E alternando sempre com conselhos intuitivos, as conversas das moças que se acham altamente experientes em homens, assessorando as amigas encalhadas ou mal-amadas. Viro as páginas por puro acaso e sem nenhuma necessidade, já que o que leio está nos olhos inchados de cansaço dos passageiros gordos de dificuldades e nas vozes desamparadas, que reclamam ao vento a sua vida difícil de pobre, que precisa de evitar faltas para não emagrecer de maneira impossível o seu mísero salário. E já cansado de fingir, fecho finalmente o livro que infelizmente já não tem nada para me ensinar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Presentes para mulheres

Poucas coisas são tão complicadas quanto escolher um presente, disse-me uma vez uma amiga numa dessas rodas de conversa em que se discutem sempre coisas fúteis evitando conscientemente aqueles assuntos como aquecimento global, fome, guerras mundiais, governos tirânicos e tantos outros que nos fazem parecer muito mais inteligentes do que somos na realidade, pois sem sabermos apenas nos limitamos a interpretar discursos televisivos baratos dos mesmos políticos que costumamos a criticar.
Ela dizia que os presentes para homens são mais complicados, difíceis de encontrar, só se fazem objetos práticos, como se fosse um desperdício criar coisas, que mesmo sem nenhuma utilidade podiam ao menos servir para presentear, tal como acontece no caso das mulheres. Tu podes oferecer um ramo de flores, mesmo que vá secar em menos de três dias, um par de sapatos que ela nunca vai usar, ou uma lingerie, que quando muito vai servir apenas para datas que acontecem uma vez por ano, como o dia dos namorados. É fácil surpreender as mulheres, afinal o mundo se prepara à milênios para isso. Já com os homens é diferente. Minha amiga se confortava sabendo que pelo menos, quando oferecesse um presente a um homem, tinha apenas que ser prática para não errar. Podia dar uma sexta de cerveja com a certeza de que em algum domingo à tarde enquanto estivesse a assistir o jogo de futebol, ele se embebedaria sem grandes ambições, um par de sapatos seria sempre ótimo para substituir aquela sandália antiga de couro que dura quase eternamente e alguns tomam banho tão poucas vezes que oferecer um perfume é uma verdadeira economia. Mas entre as vantagens e as desvantagens de se encontrar algum presente que possa servir para alguma coisa, só concordamos que pelo menos todos gostamos mais de receber do que oferecer.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O que aprendi na universidade

Agora sei muito mais do que antes de entrar para a universidade. Sei por exemplo, que universitário é uma doença que passa com o tempo, que para ser universitário não é preciso comportar-se como tal e que a Universidade é a única coisa que existe para se ir fazendo. Que perfis de entrada e saída são qualquer coisa regulamentada, mas completamente desconhecida, biblioteca de referência é uma ilusão criada pelas universidades modernas e hábitos de pesquisa e investigação científica são mais uma anedota ocidental. Aprendi mais ainda, que os reacionários são sempre universitários e por isso ao terminarem nunca têm boas oportunidades de emprego, que 99% do que vamos fazer na vida prática não se aprende nas grades curriculares, que ninguém se gradua em boa educação, personalidade e caráter e por isso não se espera que um estudante universitário seja bem educado, respeitador dos valores e das leis.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Democracias de fachada

Tenho quase a certeza de já ter falado em algum momento do meu analfabetismo político e por isso nem preciso de me desculpar quando tenho aqueles vislumbres de inteligência, de ideias quase geniais, que na maioria das vezes vêm apenas em forma de perguntas como.
De que serve a Soberania Nacional se alguns continuam a intervir em questões alheias? Ou, como alguém que se impõe por armas sem que tenha sido convidado e tem o descaramento de argumentar de maneira gloriosa, que está a fazer justiça e ainda se convence de que é a melhor solução para os outros, que outros? Aqueles que totalmente impotentes têm apenas que destilar discursos hipócritas de apoio e fingir que sabem que as baixas civis são um mal totalmente necessário para o alcance da liberdade? Uma liberdade desnecessária, igual a tantas outras, falsas e arenosas governadas antes por interesses que são em última instância puramente mercadológicos. A qual nem se pode ter a dignidade de chamá-la utópica, porque ninguém a deseja ansiosamente e já até perdeu a poeticidade daquela que se parece muito com um eterno sopro de esperança, ou uma promessa religiosa.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Crianças são cruéis, velhos são intrujões

Não nada mais sôfrego quanto descobrir que aquelas coisas em que acreditavas e pelas quais colocarias as mãos no fogo (metaforicamente, é claro), não passam de mentiras deslavadas. E não falo daquelas que ouvimos, mas temos a expectativa de que sejam mentiras, como a clássica estória do pai natal – posso até pensar em renas voadoras, mas dificilmente num velho centenário que gasta o seu tempo com crianças que ele nem sabe que existem. Ou a ridícula, mas engraçada estória da cegonha – que criança não se perguntará de onde elas tiram os bebês? Ou dos monstros que saem do armário à noite, felizmente hoje não são os únicos que precisam sair do armário. O coelhinho da páscoa – uma mentira que felizmente só atinge países muito desenvolvidos, ou as promessas dos políticos, que sem dúvida estão destinadas a nunca se cumprirem e várias outras tão ridículas e insólitas. Mas eu falo daquelas que pelo contrário, esperamos até ao fim da vida (não que eu já esteja lá), que se prove que são verdadeiras. “Crianças são anjos e velhos são responsáveis, sábios e comedidos” é sem dúvida a mais nobre de todas. Mesmo que essa tal mídia sensacionalista, muito famosa hoje em dia, nos mostre várias vezes o quanto se tem tornado perigoso acreditar nestas coisas. Entre uma e outra notícia de violência em vários lugares somos obrigados a rever as nossas crenças em relação a isso e perguntar a nós mesmos, quase num sussurro, com medo de que as nossas próprias palavras possam ser as provocadoras da situação:
- Onde estão as nossas maravilhosas crianças, aquelas que nas propagandas nos passam a última esperança de tranqüilidade, que com sua inocência lendária nunca fazem por maldade. Pois é isso mesmo, não agridem por mal, não assaltam por mal e disparam armas por pura curiosidade?
Imagino que a culpa de tudo isso seja dos jogos violentos e dos quadradinhos e bandas desenhadas que inspiram atos heróicos, ou quem sabe dos desenhos animados que falam de valentia e coragem.
E os “velhinhos” em quem antes pensávamos que se podia confiar incondicionalmente e que na sua fragilidade fisiológica tinham sempre à seu favor uma auréola de sabedoria tão antiga e respeitável quanto a sua decadência física?

quinta-feira, 24 de março de 2011

Orgulho metrossexual


Pois é! O mundo é cheio de modismos. Cada época trás um novo conjunto de manias, para seguir mesmo que só para não parecer antiquado, pelo menos à vista dos que seguem essa avalanche de modas. Podem crer, meus caros – Eu sou dos que é totalmente contra essas coisas, até porque como intelectual, não posso passar essa imagem de volatilidade da maioria que olha para a direita e para a esquerda antes de atravessar. Por isso, se sei alguma coisa a respeito, é apenas por ser levado pela minha curiosidade intelectual. Se bem que às vezes é difícil escapar porque descobres que precisas de mergulhar nas coisas para compreender melhor como funcionam, e muitas vezes tens que te render, a quase tudo.
O último grito é a vaidade masculina. Já não basta apenas visitar o barbeiro uma vez por semana para aparar a barba ou deixar melhor desenhado aquele cavanhaque estratégico, ou ainda, cortar o cabelo até a tua cabeça parecer um campo de futebol de terra batida, ou de chão “como se diz entre os brasileiros”, a moda agora é ser mesmo metrossexual! O tipo de homem que freqüenta salões com uma religiosidade quase feminina, e que se diz apenas quando é convenientemente importante, que tem alma feminina, ou é 60% mulher, fazendo sempre questão de ressaltar: - Mas não sou gay! Aqueles gajos que agora abocanham os espaços que ainda a pouco eram reduto feminino apenas para provar que tal como os nossos telefones celulares, agora temos mais um conjunto de funções totalmente inúteis, sem que isso nos tire a capacidade de continuar a oferecer flores, começar uma discussão sem cabimento, e pagar a tão famigerada conta, que até dividimos se a nossa companheira fizer questão de insistir até que não reste nenhuma dúvida de que pagaríamos, até que ser metrossexual deixe de estar em voga.

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

American dream?

“The american dream”, muito mais do que da ideia eu adoro a poeticidade das palavras que a expressam. Porque não acho nada interessante esse tal “dream”, que é frequentemente apresentado como se fosse uma espécie de certificado de civilidade, algo diferente de tudo, pelo menos até que o desconstruímos e nos sentimos como se tivêssemos participado da reinvenção da roda, porque descobrimos que afinal, não passa de nada mais do que isso – um simples sonho. Tão parecido a vários outros. Uma versão plagiada e infelizmente mais pobre dos sonhos que a maior parte de nós costuma ter sem tantos estímulos. Talvez o único para aqueles que são obrigados a acreditar naquela promessa religiosamente viciante de que o amanhã será melhor. Um emprego, uma casa, e um carro. A maioria nem pensa na comida, como se fôssemos nos alimentar de paredes, ou bancos de couro, ou melhor, da aparência de vida feliz. Afinal, o tal sonho americano é igual ao sonho Brasileiro, Argentino, Angolano, e quem sabe ao Queniano, isso se eles não atualizaram para o sonho de querer chegar a presidente dos Estados Unidos. Mas e eu, tal como outros, não perco a esperança de que não nos esquecemos dos sonhos mais importantes: a paz e dignidade!

fotografia: http://realestate.aol.com/information/american-dream

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mesa de apresentação do livro, O lado obscuro do amor

À sessão de autógrafos, antecedeu-se a apresentação e discussão crítica da obra, que esteve a cargo de dois professores versados na área. Ima Panzo e Manuel de Victória pereira. O autor ainda teve a oportunidade de trocar impressões sobre o livro, com os leitores. 


Da esquerda para a direita: o professor Manuel de Victória Pereira (debatedor do livro), Felizardo Tyiengo (autor do livro) e o professor Boaventura Ima Panzo (apresentador do livro)



Lançamento do livro "O lado obscuro do amor" no Lubango, Angola - 07.01.11

O lançamento do livro foi realizado no Anfiteatro do ISCED-Lubango, com a presença especial dos pais e familiares do autor, de várias pessoas interessadas em leitura e ainda a de professores da instituição.
   
1ª Fila da esquerda para direita: Vice-reitor da Universidade Mandume, Prof. José Luís Alexandre,
Vice-governador para a esfera política e social da Huíla, Prof. José Arão N. Chissonde,
Vice-director da área académica, do ISCED-Lubango Prof. Carlos Rodrigues Pinto e
Vice-director da área Científica do ISCED-Lubango, Prof. Francisco Pedro.
Na 2ª Fila, da direita para a esquerda: Alice, Nucha Freitas,Tache,
 Isilda e Fernando Costa (pais do autor) e Paulo Dala (tio)
Foto: Arimateia Baptista (http://www.jaimagens.com/index.php?action=actual&id=7904)





Heróis do ar

É Mentira que os heróis do ar são os pilotos de aviões de guerra, enviados para missões suicidas, com a ideia ridícula de que vão salvar a pátria e proteger a integridade territorial, quando na verdade vão subjugar outros pela força. Estes, mesmo sem saberem, são os vilões, porque os verdadeiros heróis são os passageiros.
Para começar, são os únicos que viajam sem jamais saberem quais são as verdadeiras implicações do que estão a fazer, e quase nunca são informados sobre as probabilidades que existem de que a sua viagem seja apenas de ida. Do enorme grupo da tripulação só conseguem contactos esporádicos com as aeromoças, na hora do lanche, ou quando elas exercem a sua autoridade obrigando as pessoas a apertarem os cintos, endireitar as cadeiras, fechar ou abrir as janelas, e tentando nos fazer acreditar que essas pequenas coisas vão nos manter seguros. Ninguém fala aos passageiros sobre a experiência do comandante, se tem filhos, se estás satisfeito com a sua vida, se tem tendências suicidas ou pior, se sabe que está a ser corneado pela esposa, ou seja, entregamos as nossas vidas nas mãos de um perfeito desconhecido, de quem ouvimos apenas uma voz que faz lembrar um homem desgastado pelos sofrimentos da vida, de cada vez que ele diz um prudente “bem-vindos Srs. Passageiros” apenas depois da descolagem ou aterrisagem. Pelo menos por enquanto essa voz nos dá um mínimo de conforto, mas o que será quando ouvirmos um “olá Srs passageiros”, jovial, que transpire a irresponsabilidade que estamos acostumados a imputar aos jovens? Não sei o que pode realmente acontecer, mas concerteza, os passageiros continuarão a fazer a sua parte. Sujeitar-se ao risco.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sereias do ar

O contrário dos sorrisos cínicos das vendedoras, é concerteza a seriedade das aeromoças. Ninguém resiste sem um pequeno abalo, ao seu categórico “por favor desligue o telemóvel”. Eu até entendo que estão apenas a tentar fazer o seu trabalho, mas Suku yangue, elas são demais. Sabem quando dar um sorriso que quase nunca fazem questão de que pareça simpático, enquanto acariciam os nossos ouvidos com uma autoridade camuflada na veludez das suas vozes tão ironicamente afáveis. Me parece até que é a única profissão em que os clientes é que têm que fazer os funcionários sorrirem, e olha que muitos passageiros tentam. Até porque na maior parte das vezes existe aquele exotismo misterioso que paira sobre essas sereias do ar. E uso sereias propositadamente porque desde há muito eu oiço que elas são sempre lindas, o que só pode ser uma estratégia de marketing. O passageiro pensa logo à entrada, “pelo menos morro como uma voz bonita a afagar-me os ouvidos”, quando na verdade isso não passa de uma fantasia sem verdadeiras consequências, mas pelo menos é agradável, o que não é nada agradável são os pedidos autoritários como “ocupe o seu lugar”, “endireite a sua cadeira” e “aperte o sinto por favor”, em que o por favor cumpre uma função totalmente diferente daquela a que estamos habituados, por mais difícil que isso possa parecer.

Imagem: www.cvsilva.multiply.com

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O lado obscuro do amor em Angola

Dia: 7 de Janeiro pelas 17 horas
Local: Anfiteatro do ISCED do Lubango
Apresentação e discussão crítica de
Boaventura Ima Panzo e Manuel de Vitória Pereira

Programação
Momento cultural (Música ao vivo)
Apresentação e bate-papo
Sessão de autógrafos
Cocktail

Apresentação especial no Cassino Olímpia (Shopping Millenium)
Dias: 7, 8 e 9.01.2011 pelas 22horas