Eu tenho, um amigo gordo, que circula de dieta
em dieta, tentando chegar ao corpo iedial. Eu acho que gostaria de dizer-lhe
que não existe tal coisa, que é pura ilusão criada por propagandas enganosas,
mas ele não acreditaria em mim, pois tenho
o corpo que ele gostaria, então, quando ele está triste e deprimido por não
conseguir subir cinco degraus sem que seu corpo pareça estar a entrar em colapso,
eu me sento ao seu lado, solidariamente, fingindo hipocritamente uma dor
qualquer, sem peso de consciência, tal como acontece em muitas outras
circunstâncias em que essa
falsidade nos coloca à salvo da nossa covardia, sorrindo quando
queremos chorar, abraçando quando temos uma grande vontade de esganar, ou
escondendo os nossos desejos sexuais com cantadas superficiais ou mais triste
ainda, aplaudindo discursos xenôfobos e
facistas, justificando essa atitude com um falso racionalismo e desculpas que
jamais admitiaríamos de outros. Infelizmente, meu país tambpém está povoado de
pessoas parecidas ao meu amigo, que precisam dessa charlatanice para
continuarem a viver confortavelmente a sua mórbida ignorância satisfazendo-se
com uma palmadinha solidária de vez em quando e deixando-se enganar pela
aparente tranquilidade da situação. E como não podia deixar de ser, também tem
outros parecidos à mim, com meu senso de humanidade decadente que pensam (se é
que realmente são capazes disso) que sua “humilde” hipocrisia é uma questão de bom
senso.