Para nós angolanos, estudar já foi em tempos “um dever
revolucionário”, hoje, infelizmente não passa de uma simples questão de
sobrevivência. Os jovens vão à escola para gastarem o seu tempo, enquanto ainda
não se tornaram alcoólatras, marginais, ou meninas engravidadas e transformadas
em sem-futuro, enquanto esperam na estação do futuro incerto, como aquele personagem do poema de Fridolim Kamulacamwe a quem disseram "que nunca seria alguém, e que balançaria nas
barbas de satanás".
Este pequeno trecho do texto de Fridolim representa a
triste realidade de milhares de jovens e estudantes pobres de Angola. Jovens
que são obrigados a lidar com inúmeros problemas alguns dos quais totalmente
injustificáveis, tais como falta de materiais nas escolas, um sistema
educacional que só serve para obstaculizar o seu crescimento, professores sem
paixão e/ou reaccionários, um estado que os descarta de maneira sintomática e
às vezes abjecta, além de outros como a falta de confiança nas suas próprias
potencialidades intelectuais, as mentiras contatadas como se fossem factos
científicos, as explicações falsas ou superficiais aos problemas sociais que
(n)os atingem, as humilhações e insultos decorrentes da situação
sócio-econômica das suas famílias, etc., coisas que na verdade fazem as vidas destes
angolanos e angolanas parecerem ainda piores que a do personagem da poesia do maravilhoso
Fridolim.
Os que entram para o ensino superior, ou melhor, para
as adversidades superiores sofrem com a [nossa] arrogância de professores
universitários, supostos donos de um saber que cheira à esturro e que recorre à
enganosos ardis para sustentar a supremacia do conhecimento científico sobre
tudo o resto, a sapiência ilusória dos docentes, e a pseudo-objectividade
panfletária dos nunca-pesquisadores que somos.
Com tantos problemas, fica a questão para todos nós,
mas sobretudo para os nossos jovens.
"Mas o que fazer diante dessa realidade massacrante e
aparentemente infértil? Como reagir ante as humilhações, a falta de perspectiva
o aumento dos problemas, mais do que a emergência de soluções?"
Vamos baixar as orelhas
como os burros domesticados e calar-nos, ou vamos receber as bofas (bofetadas)
diárias dessa vida miserável e [religiosamente] dar a outra face?
Vamos ser mansos, ou
rebeldes?
Como fomos domesticados com a mentira de que os mansos
herdarão a terra, talvez sejamos tentados a responder simplesmente como gado e
massa de manobra... Na verdade não há como saber, de que forma cada um de nós
deve ou vai reagir, mas a forma como vamos reagir vai mostrar de que somos
feitos.
Quanto à mim, minha
proposta é que optemos pela rebeldia!
Sejamos rebeldes, porque a rebeldia é energia, força,
criatividade e novidade. É possibilidade de transformação e revolução!
Sejamos rebeldes para criaremos coisas novas, para
revolucionaremos as nossas casas, nossas cidades, o nosso país e o mundo;
Sejamos rebeldes para termos a oportunidade de
construirmos um país diferente, mais justo e menos desigual;
Sejamos rebeldes para evitaremos que os políticos
continuem a governar-nos como se o país fosse uma empresa privada e não um bem
público;
Sejamos rebeldes para que possamos viver vidas menos
desgraçadas que nossos avôs e nossos pais;
Sejamos rebeldes transformando nossas escolas e
universidades no motor de todas revoluções que desejamos, sejam elas políticas,
econômicas, culturais, religiosas, tecnologias e até mesmo afetivas;
Vamos optar pela rebeldia para sermos capazes de transpor
as paredes do formalismo educacional que nos estupidifica em vez de servir para
aguçar nossas capacidades intelectuais;
E vamos aproveitar essa viagem a que chamamos vida para
transformar a aprendizagem num modo de existência sem limites e que deixe livre
nossa rebeldia.
Vamos à escola da vida com vontade de mudar o mundo à
nossa volta e vamos fazer da nossa vida, um exercício de rebeldia!