quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Importância de uma boca grande


Todo mundo sabe que o truque mais antigo para se ganhar uma luta é uma boca grande, pois não há demonstração de força, maior do que a capacidade de assustar as pessoas com sentenças ameaçadoras construídas por meio de palavras, que aterrorizam até quem as profere. Não falo necessariamente de xingamentos mas da conhecida volúpia daquelas intimidações feitas, enquanto disfarçamos o medo de apanhar, com uma altivez totalmente desconcertante para o nosso adversário, quando no fundo toda aquela aparente coragem não passa de um engodo de que se valem os que cedo aprenderam, que as batalhas ganham-se no bate-boca que antecede todo o confronto físico.
Não é por acaso que os exércitos sempre começam com demonstrações acrobáticas de voo, tentando passar a “clara” mensagem da perícia dos seus pilotos (se bem que no caso dos kamikazes essa talvez não fosse uma questão  importante). Assim, as manobras que assistimos, deixando-nos boquiabertos pela sua quase improbabilidade, nada mais são do que bocas grandes gabando-se de uma supremacia muitas vezes ilusória e mentirosa, da mesma forma que os destacamentos armados, marchando nas praças públicas, que contagiam o povo com promessas de vitória, legitimadoras da morte desnecessária de milhões de jovens ingressados nas fileiras dos exércitos por pura ingenuidade, ou por uma ideia distorcida de dever patriótico. A mesma função, é cumprida também pelos desfiles alegóricos de carros de combate, com alto poder de fogo, ação de choque, alta mobilidade e sistemas sofisticados de comunicação, usados para nos iludirem com uma falsa ideia de segurança, que mascara de propósito um belicismo que afronta a todos os ideais de liberdade e justiça, conquistados a duras penas nos últimos séculos, além de destruírem a ideia romântica de revolução, que a história tem tratado de apresentar-nos como uma representação quase esteticamente aceitável da violência a ela inerente.