quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Coisas que não mudam nem a pau

As tecnologias aumentaram a proporção de alimento por ser humano, mas ainda assim, vários morrem à fome, há mais livros a serem produzidos diariamente, mas persiste uma população enorme de analfabetos e o excesso de informação veiculada nos órgãos de comunicação que a disseminam como nunca, não evitou que as pessoas se tornassem cada vez mais ignorantes, enfim, insuflamo-nos  com discursos que atestam uma necessidade enorme de evoluir, mas ao mesmo tempo aceitamos com um prazer sádico os desrespeitos que nos são impostos de formas inimagináveis. Talvez ainda vivamos numa época em que o desejo de melhorar tem que ser obrigatoriamente frustrado por uma grande necessidade de manter a desordem, que pela passividade com que ela é aceita e pela sua recorrência, só pode ser genética e assim, apenas assim, a TAAG faz todo o sentido, mantendo o ciclo vicioso do “siga-me e não me perguntes porquê” onde as pessoas se convencem com pedidos hipócritas de bom senso e aceitam religiosamente justificações que muito dificilmente fazem algum sentido, por menos certo que isso pareça.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tás a ir, agora aguenta!

Eu me divirto observando as diferenças entre as pessoas e grupos, e com o tempo aprendi como é interessante olharmos para elas, pensando no que nos querem dizer. E digo isso sem pensar na língua. Há características que são bem mais idiomáticas que o próprio idioma. As minhas preferidas são as frases de efeito, elas revelam muito sobre como determinado grupo pensa, de que forma vive ou como operacionaliza o seu quotidiano, ou melhor ainda, como resolvem os seus problemas. E mesmo que na maior parte das vezes isso pode apenas parecer uma brincadeira desinformada, revela algo, senão sobre os outros, pelo menos sobre nós mesmos.
Por exemplo, o “dolce farniente”, ou o “primo comere depo filosofare” faz-me gostar dos italianos. Na minha opinião, isso explica muita coisa. E nos faz entender melhor a pizza e o macarrão. Porém, acho estranho o “Le sefardi” francês, porque faz-me logo pensar em homens barrigudos de gorro e casacos de malha passeando ao lado da torre Eiffel ou fazendo filas pachorrentas no louvre.
Sem dúvida a “time is money” reflete o espírito dos ingleses. Aquela pontualidade lendária quase esquizofrénica e a organização praticamente obsessiva. As boas maneiras e outras coisas pelas quais são conhecidos e que os convencem de uma das maiores ingenuidades biológicas, (que têm realmente sangue azul).
A disciplina oriental que é difícil de explicar a não ser pelo medo quase irracional de ficar em segundo lugar, mas mesmo assim, não tão hilária quanto o “geitinho brasileiro” para quase tudo e a utópica ideia de que não há o que não se resolva se apelares para ele. Entretanto, nada tão criativo quanto o “Tás a ir, agora aguenta” que apesar de ter surgido apenas para Taag não deixa de ser uma maneira interessante de falar dos valores angolanos. Onde parece que as pessoas não passam de vítimas sequestradas pelo sídrome de Estocolmo. Ou o costumeiro “deixa estar”, que serve para quase tudo o que por algum motivo não se resolve nunca. Ou o não menos frequente “isso é Angola” que diz quase tudo sobre o país da maneira mais eufemisticamente criativa, deixando propositadamente de falar de coisas que causariam vergonha e que sustentam os discursos politicamente correctos do pobre, mas com dignidade, esquecendo-se que na maior parte das vezes é difícil eles coexistirem.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Filosofias de botequim

Sou apaixonado por conversas de botequim, pois são uma boa oportunidade de discutir vários assuntos de maneira muito despojada. Não é por acaso que são conversas de boteco. De vez em quando participo dessas rodas e me masturbo com teorias ridiculamente insólitas e quase sempre me sinto um verdadeiro fundamentalista numa aula sobre como construir sua própria teoria de conspiração. Mais interessante de tudo, é que normalmente é possível saber quem são as pessoas à volta só pelos assuntos que elas escolhem. Solteiros se empenham em falar da sua vida sofisticada, de como prezam a sua independência, escondendo convenientemente a frustração da sua vida solitária. Casados se gabam da pseudo-genialidade dos seus filhos, e parece esquecerem-se propositadamente que o mínimo que se espera de uma criança com 8 anos é que seja capaz de correr, falar e comer sozinha. Divorciados ressaltam orgulhosamente como é bom voltar a ser solteiro e que pagar a pensão para a “Ex” é um pequeno preço pela dádiva da liberdade. Eles mentem descaradamente sobre não desejarem nunca mais voltar a casar.
Infelizmente é quase impossível descobrir sobre o que as mulheres falam, mas com certeza elas debocham da vida patética dos homens tratando de ressaltar como as suas são tão cheias de sentido, e claro, nunca deixam de falar de roupas, sapatos e compras de cada vez que a conversa parece não prosperar.
Os assuntos fazem um rodízio desnecessário e a profundidade da conversa depende diretamente de quantas rodadas já se consumiram, entre uma e outra, dá para ouvir filosofias interessantes sobre os temas mais importantes da nossa sociedade como a diminuição da popularidade do casamento, principalmente desde que os homens descobriram que não precisam casar para copular, e desde que se criaram os bancos de esperma para as mulheres, onde felizmente agora é possível ter filhos que parecem um nú artístico, com todas as qualidades que existem apenas no imaginário feminino (mais inteligentes, mais lindos, mais sensíveis, mais humanos, mais saudáveis, mais etc) e sobretudo, que não sofrem a influência tão destrutiva do pai.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pretos ou pobres?

Ninguém gosta de ser pobre, já disse isso uma vez. Então os discursos sobre humildade e orgulho são pura hipocrisia, ou argumentos de pessoas mal informadas, talvez iludidas com a idéia romântica que associa eufemisticamente pobreza a humildade, o que eu acho ser também uma grande injustiça tanto com os próprios pobres quanto com aqueles que não o são. É claro que tais argumentos se construíram ao longo de séculos e hoje apenas nos restam os clichês do ser ou não ser. Não nos sobrou muito espaço para refletir a respeito, e muito menos para discordar. Quando se fala de pobres se seguem sempre capciosas justificações: pobre, mas honesto, pobre, mas trabalhador, etc. É como se não bastasse ser pobre, é preciso ser sempre algo mais, além disso. Da mesma forma como é sempre preciso ser mais do que negro. Como negro e inteligente, negro e honesto, ou o cúmulo: negro com alma branca (ainda não sei bem quem é esse tipo de negro). Talvez por isso eles não parecem ter muitas saídas além de querer ser um grande jogador de alguma coisa. Quem sabe haverão mudanças, quando estes artifícios se tornarem tão desnecessários quanto quando se fala de ricos, ou brancos, pois, sempre pressupomos coisas boas sobre estas pessoas. Mas enquanto isso não acontece, vou tentar ser bom de bola, mas primeiro preciso de pernas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um assalto de cada vez

Todos os dias somos inundados com noticiais desesperadoras de crimes que já fazem parte do nosso quotidiano. Ninguém mais está isento de ser abordado por um estranho com um capuz, uma arma e uma criatividade lingüística enorme para anunciar um assalto. Ficar em casa nunca foi tão perigoso. E a habitual segurança de estarmos no nosso espaço pessoal foi substituída pelo medo constante de ser capitulado na sua própria cozinha, usando o teu conhecimento do lugar para te manter refém, e sair que nunca foi seguro, agora se tornou quase letal, seja ir ao banco cheio de esperanças de que aquele mísero salário já tenha caído, ou à farmácia da esquina para comprar a camisinha na esperança de antecipar o fim-de-semana, ou ainda na fila do supermercado, enquanto flertas com a moça do caixa. Não tem hora nem local exato para seres surpreendido com um enérgico: “isso é um assalto”, fazendo com que a tua vida se confunda com um filme perigosamente suspensivo, enquanto tens uma arma apontada para qualquer lugar vital do teu corpo, porque tu estavas justamente naquele lugar, no momento inapropriado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Humildade hipócrita

Essa coisa de dizer, “tenho orgulho em ser pobre”, me parece mais uma dessas demagogias impostas para fazer com que alguns grupos de pessoas não se sintam tão mal. Simples eufemismos ilusórios, afinal, ninguém deseja manter-se assim a vida toda, e se fosse realmente algo de que as pessoas poderiam gabar-se não veríamos ninguém empenhado em “mudar de vida” , pois é um orgulho viver em lugares que parecem centros de emprego ratatoille, tendo a leptoaspirose por vizinha, ou viver com muito menos que uma refeição por dia e nem se preocupar em filosofar sobre o quanto isso é improvável, não saber o que é água potável e achar que aquele frango cheio de toxinas é realmente um manjar dos deuses, pensar que guardanapo é um prato servido em restaurantes extremamente finos e frango Francês, vinho francês, arroz francês e salada francesa são realmente pratos franceses. Viver apenas para trabalhar e pagar contas, pagar mais contas, e trabalhar como se a abolição da escravatura fosse apenas um projeto de lei. Chegar ao final do salário muito antes do final do mês e ainda convencer-se que existem pessoas em situação pior, como se isso fosse fazer alguma diferença. Viver de um otimismo quase utópico, principalmente no fim de semana, quando se fazem as visitas costumeiras ao shopping apenas para engordar os olhos. Ser visitado por discursos paternalistas cheios de promessas que não têm que se cumprir, ou pelas falas sinicamente moralizadoras de celebridades que se acham um exemplo de superação e desfilam uma humildade hipócrita sobre o tempo em que também eram pobres.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando a dor no ciático não desaparece

O tempo vai passando e então vamos percebendo o quanto estamos a passar com o tempo. No início a velha história dos amigos que tu vais perder pelo casamento, enquanto te especializas cada vez mais nessa coisa de ser solteiro e isso não para aí. Os sinais continuam cada vez mais físicos e menos imaginários. Já não consegues fazer aquela corrida heróica de 100 metros depois de uma bebedeira daquelas, na verdade, à essa altura, já perdeste toda a capacidade de apanhar uma bebedeira decente e o excesso de peso há muito deixou de ser simplesmente uma piada de mau gosto dos teus companheiros. Por isso a vontade de fazer exercícios agora é mais uma necessidade.
Na noite, vais precisar cada vez mais da carteira para convencer a mulherada sobre o quanto és charmoso, e a não ser que sejas uma estrela de cinema, ele vai realmente diminuindo.
A maior parte das tuas idéias se cristalizou transformando-se em convicções e sem dúvida, elas estarão tão ultrapassadas quanto as tuas opiniões sobre moda, música boa ou bons filmes. E pouco restará da tua vida de atleta, e entre uma e outra dor no ciático, sem dúvida: jogging será para ti um desporto radicalíssimo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Solteiro sim, sozinho só durante a semana!

Como bom solteiro que sou, saio todos os fins-de-semana à noite para trocar olhares gulosos com desconhecidas que partilham comigo o clichê eticamente necessário de “solteiro e desimpedido”. Para quem não sabe, ser solteiro não é tão fácil quanto parece e só costuma a ser divertido até antes de a bebedeira passar. Pense por exemplo nos momentos em que tens que assistir ao casamento dos teus amigos, ou pior, dos teus irmãos mais novos, quando os tios e tias não se cansam de perguntar de forma sádica:
- E o teu, quando será?
O pior é quando o buquê de flores cai nas tuas mãos, se fores mulher, ninguém se preocupa em saber se tens namorado, em vez disso vão perguntar-te maliciosamente enquanto durar a festa:
- Então, já tem data?
Mais difícil ainda são as esposas dos amigos, para elas, nunca és de confiança, pois, não passas de um irresponsável com medo de compromissos sérios. E as coisas não ficam por aí, porque quando encontras o amigo casado, precisas de provar que estás ótimo, enquanto ele se queixa da sua mórbida vida, onde tem que ouvir todos os dias a esposa falar que nem um comentarista de jogo de futebol acusando-o de nunca ouvi-la e nem ligar para o estado em que ela chega a casa no final do dia. Dizendo ainda que ele não dá o mesmo carinho de antes, nem o amor que declarava naqueles cartões inflamados de paixão que chegavam no dia dos namorados, ou os jantares à luz de velas para comemorar coisas sem importância.
Nestes casos, como amigo solteiro, tens que te vangloriar por não passares por isso, pois, vives sozinho e mesmo assim nunca te sentes solitário, já que podes ter todos os animais de estimação que quiseres. E se não os tens é apenas porque isso atrairia mais mulheres que é o que menos precisas neste momento delicado e cheio de realizações. E então convenientemente lembras-te que tens pouco tempo para dedicar-te a coisas fúteis e por isso segues um estilo de vida moderno e comprometido com o teu bem estar físico e psíquico freqüentando academias e bares onde se amontoam várias pessoas interessantes e auto-suficientes como você, que tentam se convencer disso, através de cestas de compras de fim-de-semana que parecem kits de sobrevivência.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A prostituição do politicamente correto

Que vivemos no tempo do politicamente correto não é novidade para ninguém, afinal somos ensinados desde cedo que, mulheres devem falar baixinho para não parecerem mal-educadas, sentar de pernas cruzadas e vestirem-se de maneira recatada para não serem vistas como vulgares. Enquanto que os homens devem sentar-se de pernas abertas, falar em voz alta e sempre serem promíscuos para provarem a sua masculinidade. As coisas que nos envergonham devem ser tratadas por nomes de eufemismos criativamente pobres, roubados de slogans cheios de preconceitos desnecessários como: Mulheres da vida, homens diferentes, crianças especiais, portadores de necessidades especiais e homens do povo (políticos), enfim, ser politicamente correto é quase sempre a melhor maneira de lidar com as situações, pois, ninguém diz à namorada que é chata ou gorda, dizemos que ela é intensa e especial, ou ao chefe que ele é ignorante, mas que vê as coisas por uma perspectiva inovadora, não se chama o empregado de incompetente, em vez disso diz-se que ele possui um enorme potencial inexplorado e sempre que se quer aumentar a auto-estima dos pobres diz-se que eles fazem parte de uma classe socialmente desfavorecida. Nessa senda, ainda surgem as piadas politicamente corretas, que por algum motivo nunca são engraçadas. Mas o mais interessante mesmo são as críticas, que parecem mais movimentos de apoio, pois, terminam sempre com um lacônico: interessante! Ou vários discursos propositadamente generalizados sobre as opiniões a respeito das maravilhosas idéias semeadas durante aquelas tão proveitosas discussões sobre qualquer coisa.
Imagem retirada do site: http://avidaeocotidianoquelevamos.blogspot.com

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Clima de mudança


Poucas coisas têm mudado tanto as nossas vidas quanto o clima e se aceitarmos o que nos dizem os cientistas devemos a ele a nossa sobrevivência, afinal livrou-nos de animais pré-históricos como os dinossauros. Se não fosse por ele, não gritaríamos tão orgulhosamente que, estamos no topo da cadeia alimentar (esquecendo-nos convenientemente das bactérias) tudo porque sempre tivemos o clima do nosso lado. Porém, modernizam-se os tempos e modernizam-se também os usos que damos aos elementos do clima. Hoje são fonte de energia, material de pesquisa e o melhor de tudo um olho-d'água de inspiradoras justificações. As pessoas atrasam-se por causa da chuva, faltam ao trabalho porque sofreram uma insolação, ou adoecem com a mudança de clima. E é claro, que os políticos não perdem a oportunidade de usá-lo para justificarem as suas campanhas, prometendo terminar o desmatamento ao mesmo tempo em que gastam toneladas de papel em relatórios totalmente desnecessários, ou estabelecendo metas para a redução dos gases de efeito estufa em escritórios com ar condicionado. Recriminando a má distribuição de renda enquanto sorvem a comodidade dos seus opulentos orçamentos.

Entram em bairros pobres com a melhor proteção possível, acenando com sorrisos de falsa devoção, inventando histórias onde eles mesmos são pessoas do povo, de origens humildes, conhecedores das suas desgraças e sensibilizados pela falta de qualquer condição de humanidade. Tudo para assegurarem a simpatia dessas pessoas que na maioria são carentes de tudo. Exploram a ignorância e a humildade dessa classe com promessas que não serão obrigados a cumprir. Distribuem abraços calorosos aos marginalizados, para quem reservam uma polícia cada vez mais severa e uma justiça cada vez menos cega. Culpam os adversários pela seca, pela desertificação e pelo desflorestamento, enquanto agradecem o apoio de algumas corporações com uma modéstia totalmente comprometida. Em dias de chuva exaltam os pequenos agricultores e em dias ensolarados promovem o uso de energias não poluentes. E no final, prometem mudar tanto quanto as estações do ano.


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tecnologia, casamento e solteirice

“Se casamento fosse bom, não haveriam divorciados”. Essa frase é sem dúvida de algum solteiro pretensioso, que se quer desculpar do seu egoísmo irresponsável tratando de convencer o resto do mundo de que não existe nada melhor do que essa vida desregrada e sem limites na qual a linha que separa a sensatez da irresponsabilidade é a capacidade de bancar suas próprias bebedeiras. Imagino que casados também tenham as suas frases, talvez não tão inventivas, até porque eles só têm tempo para pensar em coisas supérfluas nos quase inexistentes intervalos entre as suas tarefas de esposas diligentes, maridos compreensivos e pais atenciosos. Porém não nos esqueçamos que, ao contrário dos solteiros, eles podem orgulhar-se de darem importantes contribuições para a sociedade, pois, graças ao casamento, a família ainda é sinônimo de boa educação e delinquente juvenil é quase sempre confundido com órfão ou filho de pais ausentes, além de ter-se percebido também que ladrões, prostitutas, e drogados são pessoas que não tiveram qualquer estrutura familiar. Outra coisa de que há muito se desconfiava e que só agora se tem a certeza é que, enquanto engenheiros, médicos e advogados vêm de boas famílias; professores vêm de famílias pobres. Em suma, os casamentos ajudaram-nos a observar transformações interessantes e a encontrar explicações para fenômenos antes incompreensíveis, além de contribuirem profundamente para a desconstrução dos preconceitos mais importantes das nossas sociedades. Com o desenvolvimento alcançado nos casamentos, passamos a acreditar que gays são filhos de mães solteiras e que pedofilia e embriaguês são doenças cromossômicas.
Há poucas descobertas nas sociedades atuais que não dependem dos casamentos, por isso talvez o solteiro seja uma grande desvantagem tecnológica.

domingo, 1 de agosto de 2010

Camuflagem perfeita

Sou como a maior parte da população, um verdadeiro camaleão. Dependendo da companhia eu visto a cor da bandeira. Se estiver com políticos, meus discursos inflamados se prostituem com promessas que nunca se cumprirão. Aproveito falar das minhas convicções partidárias tendo o cuidado de defender sempre os oprimidos, pobres e desintelectualizados espalhados por aí. Faço questão de apoiar leis fascistas camufladas de vantagens para as classes desfavorecidas. Grito hipocritamente em nome de um povo sobre o qual nada conheço e de quem provavelmente fugiria se encontrasse, porque na minha ignorância de cidadão de “primeira” eu sei que eles são perigosos criminosos.
Tenho a certeza de que não me diferencio daqueles falsos intelectuais, que vociferam filosofias de botequim enquanto deixam escapar inadvertidamente o seu desprezo por quem não se instruiu, discutindo irresponsavelmente sociologismos baratos alimentados por teorias sobre quase nada e que se provam por si mesmas há séculos.
Confundo-me no meio de uma multidão preconceituosa, que pensa que deve esconder seus preconceitos sobre si mesma tentando desesperadamente manter atrás da cortina o apartheid em suas cabeças, enquanto desfilam com idéias que contrastam com sua postura quotidiana.
Não sou diferente dos homens que escondem a sua fragilidade por detrás de um cavalheirismo pretensamente machista, ou dos que vivem uma ilusória liberdade, se envenenando diariamente com uma perigosa necessidade de ignorância, assimilando realidades aparentemente irreparáveis e se conformando com um sedentarismo ideológico secular.
Normalmente me sinto uma promessa religiosa, que se cumpre apenas na esperança, porque nunca chega, entretanto, ninguém se desespera, mas sou principal e essencialmente um ser humano e acho que isso diz tudo sobre mim!
Imagem retirada do blog: http://liuleite.blogspot.com.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A verdade sobre Adão e Eva

Nunca aceitei muito bem a estória de Adão e Eva, sempre tive as minhas reservas. Pois se Adão era à imagem e semelhança de Deus, tinha que ser inteligente o suficiente para não se convencer por um argumento tão simples quanto “os nossos olhos se abrirão”. A verdadeira história talvez nunca seja conhecida, mas eu imagino que pode ser a seguinte:
A primeira retificação nessa versão é que não era uma serpente quem seduziu a mulher, mas um papagaio e se pensarmos e um pouco, ele é o único animal capaz de imitar a fala humana, por isso, é mais fácil acreditar num papagaio falante do que numa serpente. Tudo bem que se dá a entender que ela não se arrastava o que nos faz pensar que todas as suas impossibilidades atuais são resultado da maldição, mas se Deus não foi tão cruel com os homens, porque teria sido com o pobre animal? Alguns talvez digam:
- Mas não era a serpente, era o diabo.
Neste caso, ela não devia ser castigada porque estava possuída, com certeza a serpente acabaria bem se os advogados já tivessem sido inventados. Mas o papagaio se saiu melhor já que, apagou completamente os seus vestígios, deixando a serpente como a má da fita.

Ele ouviu uma conversa qualquer sobre uma das frutas do jardim e foi contar à mulher, que curiosa decidiu provar, mas claro, ela sentiu-se arrependida logo a seguir e a única pessoa com quem podia partilhar a culpa era Adão. Aqui começa outra imprecisão interessante, pois para convencer a humanidade da culpa da mulher fabricou-se como sempre se faz "desde que o mundo é mundo" uma narrativa na qual toda a culpa recai sobre a mulher, como se o pobre Adão não tivesse ele mesmo a mínima curiosidade sobre a suposta fruta. Seria mais justo se imaginássemos em vez disso um cenário em que Eva não tivesse convencido o homem tão facilmente como se diz, dizendo por exemplo, que na época ele ainda tinha alguma sensibilidade e quando Eva começou a reclamar que ele não a entendia, não se solidarizava nunca com ela, que sempre fazia tudo sozinha, pois ele era descuidado com a única pessoa que fazia tudo por ele, que não chegou onde chegou sozinho, mas porque ela sempre o apoiara mesmo quando não concordava ou quando as suas idéias pareciam extremamente absurdas e tresloucadas, que estava cansada de levar a relação sozinha há muito tempo e que se ele queria continuar a relação era melhor que começasse a se esforçar e aquele era sem dúvida o melhor momento para fazê-lo se não quisesse começar a procurar outra Eva! Adão não teve escolha e se solidarizou com a mulher. Porém, dizer que apenas isso lhe custou o paraíso é uma saída fácil demais para Adão, pois significaria de novo que a culpa toda foi de Eva criando uma narrativa de culpabilização da mulher desde os primórdios, garantindo desde então o surgimento na história da humanidade de uma espécie de bode expiatório para todos os deslizes masculinos. 

De lá pra cá, sempre que alguma coisa sai errada, Eva é culpada. A Eva de hoje, são as Mães, que quando o filhinho erra, são logo tornadas putas (filho da puta), são as esposas que têm que assumir a responsabilidade de cuidar dos maridos para não serem vistas como más esposas, são as que recebem a culpa pela traição dos seus esposos, porque não foram "esposas suficientes", são as "grandes mulheres" que sempre estão atrás e nunca do lado dos grandes homens, são as irmãs que não merecem as mesmas oportunidades que os irmãos, etc. 

As Evas atuais carregam o peso de uma mulher, acusada injustamente e que se calhar nunca chegou a existir, porquanto a verdade sobre este velho mito ficará por isso mesmo, pela imputação de uma culpa fictícia às mulheres.


domingo, 18 de julho de 2010

Liberdade de mulher



A pílula talvez seja uma das invenções mais importantes para a mulher moderna. Nada melhor do que a liberdade paradisíaca, resultante dessa miraculosa poção da modernidade.
Antes, apenas a mulher arcava com as conseqüências da ausência destes milagres tecnológicos, hoje ela é a maior beneficiada, economizando mais tempo para as suas necessidades estéticas, redescobrindo a beleza e reinventando funções para partes do corpo que antes não serviam para nada mais além da automaticidade materna reforçada por uma política despropositamente secular, usada para justificar a primaticidade dos instintos humanos.
Das mini-saias aos saltos, do simples rímel aos cilicones, a auto-estima feminina foi resgatada. O resultado não são apenas mulheres mais bonitas e mais altas, mas um maior espaço para mostrar que o fogão e o tanque jamais serão seus únicos destinos. Os homens agora se assustam, porque já não competem apenas com uma diligente doméstica, mas com adversários completos, que além de excepcionalmente atraentes provaram, muitas vezes serem mais inteligentes. Enquanto fingem conversar sobre futilidades, deixam os homens convencerem-se de que são mais espertos permitindo-lhes brincar com adjetivos como forte, prático e racional, que nada mais oferecem além de significados vazios e quase nenhuma utilidade. Por fim, encurralam-nos numa patética e subserviente vida, dividida entre a cerveja com os amigos na sexta à noite e o futebol no domingo à tarde. Enfim, chegamos ao ponto em que para tanta mulher tomando a pílula da auto-suficiência, há centenas de homens que ainda contam com a sua diligente doméstica (Amélia). Assim, é claro que faltam homens!
Obs: A foto acima foi retirada do site: http://www.br.taringa.net

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Filas, porque vos quero

Não há praga maior do que as filas. Difíceis de controlar, praticamente impossíveis de erradicar, mas têm a sua utilidade, pois fornecem indicadores interessantes sobre um país, elas são de uma proporcionalidade fantástica. Veja que, quanto menos desenvolvido o país, tanto maior a crença da população de que as filas são o melhor exemplo de sociedade organizada.
Elas falam sobre o nível tecnológico do país quando as pessoas preferem acordar quatro horas antes do expediente mesmo se o seu atendimento depende exclusivamente de uma senha eletrônica, ou sobre a ignorância informática da população na hora de fazer a declaração de renda para a Receita Federal. Claro que não podemos esquecer que servem também para fofocar sobre o vizinho que não imagina que é corno graças a demora na fila do ônibus, ou para aumentar a autoestima da menina do caixa do supermercado com xavecos improvisados em cima da lista de compras, enfim, sem elas talvez não saberíamos o que seria beber e fumar socialmente.
As filas também são um bom indicativo de produção, afinal quanto mais tempo as pessoas passam nas filas, menos tempo passam trabalhando e os atendentes conhecem a situação, por isso as filas são longas e demoradas demonstrando a sua solidariedade com os clientes, infelizmente muita gente não compreendem e se exaspera profundamente com a lendária morosidade das filas, esquecem-se que graças a elas, evitam expor-se a situações potencialmente perigosas como a possibilidade de serem seqüestrados na sua própria casa. Elas sempre dizem coisas interessantes: a da padaria, por exemplo, diz que o pão até não é tão bom, mas é barato, a do banco, quanto maior a fila, melhor a política de crédito. Mas não há nada melhor que a do talho, entre uma e outra lição de anatomia para donas de casa, você ainda se deleita com as melhores estórias da vizinhança, entretanto nenhuma é tão irritante quanto a das repartições públicas – onde você espera por horas a fio e quando chega a tua vez sempre falta mais um documento, ou assinatura. Engraçada mesmo é a fila do chapeleiro, e da loja de roupas, todos esperando desesperados pela sua vez de se despir. Poucas são tão disputadas como a do bar, sobretudo se o barman for uma mulher.
Tem também as filas sazonais, por elas podemos dizer em que dia do mês estamos, como as do salário, as das vésperas do natal, páscoa e dia das mães, ou a eleitoral, que normalmente quer dizer que acabou a copa.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

jOGatInA: O lado obscuro do amor


Grande dilema: ou você se gaba e todo mundo te critica por falta de humildade, ou não, e as pedras caem-te em cima por falsidade. Fácil mesmo é ser o camarada que realizou o seu sonho, como se fosse uma daquelas viagens que você faz apenas uma vez na vida. Eu, mais do que ninguém sei que jamais verei "o sonho" realizado, até porque não faria muito sentido - quem havia de querer um sonho materializável? Perderia a graça, deixaria de ser parte dessa bizarrice de apostas, que o universo faz com as pessoas, além de que ele explica muitas coisas. Tal como a diversidade. Imagina, o que seria da diferença se não fosse pela diversidade? E o que seria da diversidada se não fosse pelos sonhos? Por isso eu não deixo de apostar, procurando os melhores cavalos e torcendo para que não me desapontem. Por ora, coloquei tudo no "lado obscuro do amor", uma aposta de longo prazo e a primeira de muitas.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

LANÇAMENTO DO ROMANCE

O LADO OBSCURO DO AMOR


"O epílogo é original e surpreendente. Trata-se de um Romeu e Julieta do Século XXI, em que o autor utiliza com pertinência, o recurso do fluxo da consciência, apresentando por isso uma forte tendência psicológica."

Prof. Doutor Rúbens Pereira dos Santos
Especialista em Literaturas de Expressão Portuguesa.


Sobre o romance
O romance tem como personagens principais os jovens Sara e Abelardo. Sara, uma jovem em conflito com a família devido às imposições que lhe são frequentemente colocadas, Abelardo um jovem delinquente, que ficou órfão por conta da guerra civil em seu país. o livro conta não somente a dinâmica da relação dos dois, mas a influência e interferência da família na mesma, incluindo dessa forma caracterizações relativas à forma como se concebem estas relações na óptica africana, numa sociedade em que se vive uma conflituosa conciliação entre os costumes locais e a influência ocidental, com os jovens como força-motriz dessa transformação. A história desenrola-se em Luanda, capital do país, e nesse contexto trata-se de referir aspetos sócio-culturais desta cidade e não só. são feitas referências históricas sobre as lutas de resistência colonial levadas a cabo pela rainha Nzinga Bandi e ainda sobre o estado econônico-social do país.
O mesmo é de autoria de Felizardo Costa que adota o pseudónimo: Felizardo Tyiengo.

CONVITE PARA LANÇAMENTO

CONVITE PARA LANÇAMENTO


A velha história da árvore, do filho e do livro. Conheço muito poucos que podem se dar ao luxo de dizer: ufa! Porque sempre falta uma coisa ou outra, quanto a mim, comecei por aquela que alguns deixariam por último, claro, a árvore não é tão complicada, como diz um amigo meu basta apenas regar um feijoeiro e a maior parte já fez isso ainda que por engano, e fazer fedelhos sempre foi historicamente mais fácil, principalmente para os homens. Eu estou na fase três, que não foi muito fácil, mas posso dizer de boca cheia, foi mara e por isso, prometo não parar. E como não dá para deixar de festejar este dia, estou convidando você a dividir algumas coisas a respeito do lado obscuro do amor.
Nesse dia, terá um programa organizado especialmente para quem for ao lançamento:
1. Com saxofone tocado ao vivo;
2. Bate-papo exclusivo do autor com os presentes e
3. Sessão de autógrafo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Primeiro emprego (Desempregado)

Hoje sonhei com o meu 1º emprego. Percebi logo no início, que se tratava de um sonho porque, comecei com grandes regalias. – Um crédito que me dava direito a uma casa (modesta mas minha), um carro (em segunda mão, com amortecedores partidos e alguns riscos na pintura, mas fruto do meu trabalho e suor).Até podia tirar férias a um lugar em que as férias eram chamadas de rest e fim-de-semana, holidays (dias sagrados, achei!).Já podia sentir-me orgulhoso, sem que alguém me dissesse que “orgulho é pecado”. Não foi difícil notar, que já não me preocupava com militância partidária e em arranjar nomes feios para a governança; em parte porque andava ocupado em aproveitar as coisas boas que me eram oferecidas. Já concordava com o meu pai que sempre disse: - só os pobres são invejosos, gananciosos, falsos e mentirosos”.Assim, até apetecia fazer um testamento para a prole, mas na altura de projectar a reforma, partiu-se o pau que servia de suporte para a minha cama, cai sobre o chão de cimento irregular do meu “pequeno” cubículo e reparei meio trôpego ainda, que o relógio/despertador não tocara, a sineta tinha falhado mais uma vez. Como todas as minhas tentativas dos últimos meses na busca de um emprego. Disparei um xingamento à governança, depois de ter-me lembrado, que ainda não tinha pago a quota do partido. Fiquei com alguma inveja do vizinho que buzinava ao lado da minha casa e lembrei-me que pelo menos era mais feliz que ele por não ter que aturar patrões; e salários míseros só de 45 em 45 dias.

terça-feira, 23 de março de 2010

DILEMA DOS PAIS

Ser pai ou mãe é difícil por muitos motivos. Os filhos, pequenos e frágeis precisam de muito mais que proteção física e material. Amor e carinho são ingredientes indispensáveis. Eles passam por vários testes, todos dificílimos e complexos, de pôr em parafusos qualquer um. Meu amigo que acabou de ter seu filho me contou sobre uma situação que ele achou o mais difícil dilema com que ele já teve de lidar, e olha que ele é Pós-doc em Matemática e sua esposa que também vem de uma família de cérebros extraordinários quase entrou em depressão. Só mesmo a avô, com sua sabedoria empírica e o bom senso de alguém que já viu 97 primaveras, pôde resolver.
- O problema é pensarem demais, dizia a senhora, no meu tempo, isso nunca foi um problema, precisava-se de um e apenas pensávamos nos padrinhos de casamento se era menino, do padrinho servia, se menina, usávamos mesmo da madrinha e se o casal não era casado e não tinha padrinhos, lógico, era ver na agenda o santo do dia. A igreja católica é cheia de santos, tem santo pra tudo que você pode imaginar. Deve ser um dividir para melhor reinar, lá no céu, que só visto. Todos eram católicos no meu tempo e por isso nenhuma família recusava um santo. Teve tempos em que os políticos estavam em voga e o povo se apossava dos seus sem o menor remorso, o dono nem era consultado, nessa altura, o pior era ter tirado de político corrupto. Quando passaram-se a estudar os reinados na escola, todos queriam de um rei ou rainha, quem não queria uma majestade lá em casa, e aconteceu o mesmo quando começou o oba oba dos deuses gregos, que maravilha, os velhos tinham inveja dos novos e adotavam alguns para eles mesmos, foi assim que eu peguei o meu. Mas a fase mais interessante foi quando começaram a se popularizar os movimentos reivindicativos e os intelectuais hasteavam a bandeira da revolução, aí surgiram duas facções: as que tiravam dos filósofos, homens de idéias grandiosas criadores das ideologias que escamoteavam os governos que nem eles dirigiriam melhor e os que tiravam dos reacionários, que usavam o ódio dos pobres pelos ricos para angariarem partidários. O boom mesmo foi com a geração dos artistas, nunca vi nada igual. Os que já tinham queriam mudar, claro que as coisas eram mais fáceis para quem ainda não tinha.
Na época dos direitos iguais, tudo mudou, mulheres e homens se juntavam e davam aos seus filhos, na verdade eles sempre deram, mas agora era de maneira mais livre. Um incesto moral, mas a culpa não era de ninguém, cada dia parecia mais, que todos já tinham sido escolhidos; na China, inclusive, os Jonh Lee foram proibidos porque já eram demais. Os que não tinham sido dados às pessoas começaram a ser dados às ruas, às avenidas, aos bairros, até túneis, viadutos e estradas, simples amontoados de betão receberam os seus próprios, por isso entendo o vosso dilema. Agora, até os programas de computador têm um nome: windows 7, Office 2007, Miguel 2.3.7.0.1. Os nomes nunca foram tão ridículos.