A nova forma de
bajulação em Angola tem cara de crítica, porém é tem cara de crítica, porém é superficial, mentirosa e hipócrita. Mas antes que me bajulem (leia-se, critiquem),
deixa-me explicar o que quero dizer.
Como sabemos, o
ser humano é extraordinário por vários motivos e um deles é com certeza a sua
grande capacidade de criar. Inventamos e reinventamos coisas todos os dias, na
forma de realizar as várias tarefas do nosso quotidiano para libertarmo-nos do
tédio e da mórbida monotonia que muitas vezes representam as nossas míseras
vidas. Essa capacidade inventiva não tem fronteiras e envolve-nos também às nós
mwangolés, que de facto não fugimos à regra, pois somos tão inventivos que às
vezes o que nos falta é apenas tempo para filtrarmos tanta criatividade na
arte, na forma de sobreviver às agrudas da vida e também na forma de continuar
formas antigas de sobrevivência apenas com cara de roupa nova. Neste sentido, a
mais recente novidade é a crítica como nova forma de bajulação.
À vista da
morte do antigo “rei”, as pessoas começaram a mexer-se desconfortáveis nas suas
cadeiras e a pensarem em como enfrentar a nova realidade política, ou como
manterem-se a flutuar no rio das benesses a que estavam acostumadas.
Já Havia o
prenúncio de que as armas antigas cairiam forçosamente em desuso, tornar-se-iam
absoletas e quem ousasse continuar usá-las corria o risco de ser estigmatizado
e transformado em uma espécie de pária, tal como ocorria antes com quem se
atravesse a criticar.
As soluções começaram
a chegar timidamente por meio daqueles que antes se haviam sacralizado como
arautos da bajulação.
Primeiro
substituindo seus antigos discursos hipocritamente elogiosos por formas mais
suaves e menos comprometedoras, testando um “mas, ou um porém” nos interstícios
da sua hipocrisia, criando a falsa ideia de ponderação e equilíbrio discursivo.
E também, é claro, para que a mudança não parecesse brusca.
A seguir
passaram a concordar com as críticas antes feitas, mas apenas com aquelas mais
refinadas, que não diziam nomes e que perdiam-se facilmente em discursos
generalizantes que jogavam toda a culpa da corrupção, miséria, falta de
transparência, falta de medicamentos, educação precária, etc. num passado órfão
de protagonistas reais. Valia criticar, mas ainda não valia apontar dedos à
ninguém fingindo uma tentativa falsamente humilde de salvaguardar a honra de
quem a havia perdido há muito tempo.
De
especialistas em defender o indefensável passaram à “cientistas” dos projectos
que custaram caro, mas saíram tortos. Magicamente a sua memória recobrou
prodigiosa servindo para apontar inconsistências de projectos que antes
defendiam como obras extraordinárias e visionárias.
Descobriram por
um golpe de um suspeito cientificismo que afinal a nossa educação não era mesmo
lá grande coisa, que a função pública estava cheia de vícios, que não havia transparência
na gestão pública, que afinal tínhamos mesmos muitos e sérios problemas
sociais. Alguns mais corajosos, ou mais descaradamente hipócritas deram às
caras para contar as antigas falcatruas e como se tinham batido contra tudo
isso, mas esquecendo-se de propósito de contar como se tinham beneficiado com
tais esquemas.
Outros
lembraram-se que desde sempre tinham tido posições críticas e que sempre as
assumiram “corajosamente” entre as quatro paredes dos seus quartos.
Muitos deles
logo destronaram aqueles que o povo sempre viu como críticos do sistema,
enquanto outros se escondiam. A concorrência se tornou desleal e os antigos e verdadeiros
críticos inteligentemente recolheram-se para não serem confundidos com essa
nova geração de bajuladores, que fazem da crítica fajuta, superficial e
generalizante sua nova arma, compreendendo que apenas se reeditava a lição
aprendida na transformação dos nossos discursos na queda do “P” de popular.
Quando magicamente substituímos os discursos socialistas por jargões mal
compreendidos disfarçados de idéias democráticas.
A crítica é a
nova forma de bajulação e engana-se quem pensa que é a tão esperada
demonstração de inteligência de uma certa elite intelectual angolana.
E quanto à este texto, talvez não seja nada mais do que uma obra de um bajú que quer apenas parecer diferente...