segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A crítica é a nova forma de bajulação

A nova forma de bajulação em Angola tem cara de crítica, porém é tem cara de crítica, porém é superficial, mentirosa e hipócrita. Mas antes que me bajulem (leia-se, critiquem), deixa-me explicar o que quero dizer.
Como sabemos, o ser humano é extraordinário por vários motivos e um deles é com certeza a sua grande capacidade de criar. Inventamos e reinventamos coisas todos os dias, na forma de realizar as várias tarefas do nosso quotidiano para libertarmo-nos do tédio e da mórbida monotonia que muitas vezes representam as nossas míseras vidas. Essa capacidade inventiva não tem fronteiras e envolve-nos também às nós mwangolés, que de facto não fugimos à regra, pois somos tão inventivos que às vezes o que nos falta é apenas tempo para filtrarmos tanta criatividade na arte, na forma de sobreviver às agrudas da vida e também na forma de continuar formas antigas de sobrevivência apenas com cara de roupa nova. Neste sentido, a mais recente novidade é a crítica como nova forma de bajulação.
À vista da morte do antigo “rei”, as pessoas começaram a mexer-se desconfortáveis nas suas cadeiras e a pensarem em como enfrentar a nova realidade política, ou como manterem-se a flutuar no rio das benesses a que estavam acostumadas.
Já Havia o prenúncio de que as armas antigas cairiam forçosamente em desuso, tornar-se-iam absoletas e quem ousasse continuar usá-las corria o risco de ser estigmatizado e transformado em uma espécie de pária, tal como ocorria antes com quem se atravesse a criticar.
As soluções começaram a chegar timidamente por meio daqueles que antes se haviam sacralizado como arautos da bajulação.
Primeiro substituindo seus antigos discursos hipocritamente elogiosos por formas mais suaves e menos comprometedoras, testando um “mas, ou um porém” nos interstícios da sua hipocrisia, criando a falsa ideia de ponderação e equilíbrio discursivo. E também, é claro, para que a mudança não parecesse brusca.
A seguir passaram a concordar com as críticas antes feitas, mas apenas com aquelas mais refinadas, que não diziam nomes e que perdiam-se facilmente em discursos generalizantes que jogavam toda a culpa da corrupção, miséria, falta de transparência, falta de medicamentos, educação precária, etc. num passado órfão de protagonistas reais. Valia criticar, mas ainda não valia apontar dedos à ninguém fingindo uma tentativa falsamente humilde de salvaguardar a honra de quem a havia perdido há muito tempo.
De especialistas em defender o indefensável passaram à “cientistas” dos projectos que custaram caro, mas saíram tortos. Magicamente a sua memória recobrou prodigiosa servindo para apontar inconsistências de projectos que antes defendiam como obras extraordinárias e visionárias.
Descobriram por um golpe de um suspeito cientificismo que afinal a nossa educação não era mesmo lá grande coisa, que a função pública estava cheia de vícios, que não havia transparência na gestão pública, que afinal tínhamos mesmos muitos e sérios problemas sociais. Alguns mais corajosos, ou mais descaradamente hipócritas deram às caras para contar as antigas falcatruas e como se tinham batido contra tudo isso, mas esquecendo-se de propósito de contar como se tinham beneficiado com tais esquemas.
Outros lembraram-se que desde sempre tinham tido posições críticas e que sempre as assumiram “corajosamente” entre as quatro paredes dos seus quartos.
Muitos deles logo destronaram aqueles que o povo sempre viu como críticos do sistema, enquanto outros se escondiam. A concorrência  se tornou desleal e os antigos e verdadeiros críticos inteligentemente recolheram-se para não serem confundidos com essa nova geração de bajuladores, que fazem da crítica fajuta, superficial e generalizante sua nova arma, compreendendo que apenas se reeditava a lição aprendida na transformação dos nossos discursos na queda do “P” de popular. Quando magicamente substituímos os discursos socialistas por jargões mal compreendidos disfarçados de idéias democráticas.
A crítica é a nova forma de bajulação e engana-se quem pensa que é a tão esperada demonstração de inteligência de uma certa elite intelectual angolana.

E quanto à este texto, talvez não seja nada mais do que uma obra de um bajú que quer apenas parecer diferente...