Que hospitais são lugares sombrios, todos
sabemos, e principalmente se considerarmos o seu quotidiano e a forma como os
agentes de saúde exercem a sua autoridade, sem medo de serem repreendidos e
aparentemente sem sequer uma consciência que os mobilize a evitarem que os
paciente se sintam responsáveis por um adoecimento que é uma fatalidade, um
evento natural, uma espécie de inevitabilidade fisiológica. Na minha terra,
costumo ouvir as mais variadas histórias
sobre assombrações noturnas e manifestações de fenômenos dificilmente
explicáveis pela lógica humana, mas isso em geral não me assusta tanto, afinal,
o quotidiano africano está povoado destas histórias sejam elas dentro ou fora
dos hospitais, mas já não vejo com a mesma leveza, o tratamento dos pacientes,
porque ainda que a barbárie com que se tratam os doentes se tenha tornado um
lugar comum, é mais difícil de aceitar, pois diferente de uma crença alimentada
pelo nosso misticismo crônico, trata-se de mostrar o mínimo de humanidade com
os outros. É também exercício de profissionalismo e responsabilidade pelo
resultado positivo de seu trabalho.
Com certeza nunca ninguém quis adoecer,
mas hoje, a idéia de ter que entrar para um hospital torna a pessoa mais
fragilizada, pois tem que preparar-se para as humilhações médicas, para o descaso
perante o seu sofrimento e para um tratamento abjecto, ou seja, a pessoa nem
mais é reconhecida como alguma coisa, é um nada que importuna o merecido
descanso do enfermeiro e a sábia concentração do médico.
Ninguém nega a importância deste
serviço e exactamente por isso as pessoas ainda se sujeitam ao deplorável tratamento
que recebem, às vezes mesmo em clínicas privadas, desde diagnósticos viciados a
tratamentos abusivos. E nestes casos, mesmo quando a esperança já não parece
uma virtude necessária ainda vivemos dela, apenas para justificar a nossa
mísera existência que depende cada vez mais de profissionais aparentemente sem o
menor respeito pela vida e dignidade humanas e o pior é que agora até as
excepções dependem de um absurdo nepotismo.