Um amigo disse-me uma vez que “nada impõe
mais limitações a um homem do que a falta de dinheiro”. Esta é uma daquelas
frases, que você reluta em atribuir a alguma pessoa viva, sobretudo se for
alguém próximo, afinal, nada é mais difícil de aceitar do que a genialidade de
um ente querido, principalmente se ainda polui a atmosfera contigo, nos almoços
familiares e bebedeiras de fim de semana.
A frase apanhou-me desprevenido, por isso
fiquei com aquele semblante de novato em praia de nudismo, que não pode admitir
a própria ereção por questões de princípios e não se masturba nem mentalmente,
com medo de ser descoberto.
Ao me recuperar, pensei: talvez sim,
principalmente numa sociedade
capitalista, porque numa socialista, as coisas seriam diferentes. Infelizmente
vivemos numa, ou em várias sociedades capitalistas, onde quem não pode comprar,
normalmente não pode muitas outras coisas
e dificilmente pode dar-se ao luxo de filosofar sobre a vida, pois não lhe sobra
muito tempo entre as longas e fastidiosas jornadas de trabalho.
Quando chega o final de semana, a única
reflexão que faz algum sentido para ele é: a que horas é o jogo? Isso quando o
peso de consciência não lhe obrigar a dar atenção à família, oferecendo
possibilidades de diversão altamente
criativas, (devido a falta de recursos), porque infelizmente, aquelas jornadas semanais
pouco oferecem, além de uma identidade trabalhadora precária, uma satisfação
ilusória, e uma dignidade mal informada, secularizada por essa tradição que não
desconfia da necessidade doentia de trabalhar apenas para pagar contas, uma
refinada forma trabalho forçado, que esconde obrigações artificiais, criadas
propositadamente para manter o cidadão com aquele sorriso de dever cumprido, característico da classe “trabalhadora”,
que se orgulha de estar a construir uma sociedade pretensiosamente melhor, à
custa de uma dignidade alienada.
Depois de todas essas idéias disparatadas,
eu cheguei a minha própria conclusão, talvez o problema nem seja a falta de
dinheiro, mas a falta de tempo para pensar na própria condição de vida e a
ignorância. Mas pode ser que não ter dinheiro também obrigue as pessoas a se
manterem ignorantes, o meu amigo teria dito algo sobre isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário