Sou como milhares de angolanos, que mais por orgulho do que por um patriotismo
verdadeiro, desconsideram as acusações sobre corrupção de que se ouvem falar em
noticiários sensacionalista de cadeias televisivas estrangeiras, que não medem
esforços para arrastar o nosso “bom nome” aos lugares mais desonrosos das
listas, que qualificam os países pelo grau de honestidade e transparência na
gestão pública. Porém às vezes, esse patriotismo mal informado é suplantado e
posto à prova por várias situações, que somos obrigados a suportar em lugares
públicos e mesmo privados. Não interessa se se trata de um cartório, um aeroporto,
ou o cúmulo, uma esquadra de polícia. Sempre encontramos o espectro de uma
corrupção assombrosa, tão frequente que quase se confunde com um procedimento
normal e obrigatório; e se antes as pessoas, sentiam-se inibidas a oferecer
subornos, hoje em dia, a coisa é escancarada e sem o mínimo de escrúpulos. Os
próprios funcionários negociam infracções para garantirem no final aquele
argumento que parece a única saída legal: “você me ajuda e eu te ajudo”. E
quando isso acontece, não há muito a fazer pois, é sempre num timing perfeito,
ou seja – tu, cidadão, desesperado, perdido, ou tão atrasado, que não te resta mais
nada senão ceder, porque Infelizmente, quando há urgência e desespero a falarem
mais alto, não existe sopro de bom senso, que nos sirva.
Normalmente
a coisa começa com as pessoas esvaziando-se em argumentos razoáveis, passeando
entre uma humildade previamente ensaiada e uma arrogância desnecessária dos
agentes e outros funcionários
descaradamente corruptos, que parece formarem uma espécie de corredor polonês
ao qual tu és obrigado a submeter-se, distribuindo gasosas vergonhosamente míseras,
que para nada mais servem do que acabar com a tua própria dignidade, já que, ao
que parece, expressões como: dignidade, honestidade e zelo não cabem nos
vocabulários desses facínoras.
E
então, o pobre cidadão, na ausência de qualquer possibilidade de reclamação submete-se
resignadamente, guardando sua insatisfação com esperança de usá-la contra
alguém, que venha um dia destes a precisar também dos seus préstimos.
Generalizando-se desta forma uma estranha experiência de angolanidade,
ostentada com um orgulho burro, que se baseia numa espécie de desfuncionalidade
estrutural.
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