Como
sempre, às manhãs de sábado eram as alturas que as pessoas usavam como desculpa
para visitar os populosos mercados, conhecidos no seio popular com praças. Não
muito porque era o nome que melhor se adequava, mas principalmente, devido ao
fraco vocabulário das pessoas humildes. Assim, na ausência de expressões
linguisticamente mais ricas, colava-se na boca do povo, majoritariamente
analfabeto, o simples “vou na praça”, que servia para expressar a assustadora
diversidade de utilidades, que aquele espaço simultaneamente informal, ilegal e
marginal, possuía. Por isso, engana-se quem imagina esses lugares como sendo
apenas espaços de venda de bens e serviços, que mantinham à duras penas a já
difícil subsistência de milhares de
cidadãos, expatriados de quaisquer direitos sociais e civis, salvo quando sua
opinião valesse o voto, que faria a
diferença entre uma monarquia ilegal e uma série de Promessas de Governo com
uma competência duvidosa, devido aos interesses
escusos, que sustentavam seus discursos pretensamente patrióticos. Essas
praças, como queríamos dizer, expunham também uma forma de vida característica
de um grupo, que está condenado a conformar-se com um distanciamento social
crônico e desnecessário entre cidadãos de uma mesma nação, pois estavam fadados
a viver como nacionais de 3ª classe, afinal, jamais lhes tinha sido explicado,
quê “estória” é essa de igualdade de oportunidades, direitos civis, dignidade
social, etc., todos conceitos muito difíceis de serem entendidos por essas pessoas,
pois eram tão abstratos e tão difíceis de ilustrar quanto 3 refeições por dia,
um salário, ou, um emprego de fato, já que as únicas coisas que estavam
acostumadas a viver reproduziam uma taxa de desemprego altíssima, condições de
vida precárias e uma impossibilidade dolorosa de sonhar com dias melhores.
Então,
as grandes praças, eram o remendo possível de uma situação impossível, pois
aceitava sem preconceitos, que por lá proliferassem todos, comprando, vendendo,
trocando e enganando, sempre que possível para fermentar o lucro apertado, que
oferecia o monte de tomate estragado de tanto calor, de 5 por 300,00, a carne
coberta de tanta mosca que os clientes preferiam não ver, a roupa que se fingia
nova em folha, para bem da transação e que guardava histórias desinteressadas
sobre o quotidiano das pessoas que pululavam pelo mercado por verdadeira
necessidade, ou apenas por interesse turístico, que muitas vezes saia mais caro
do que os pulas alheios esperavam, roubados mesmo nas barbas de uma polícia impávida,
que acostumou-se a observar, mais do que a agir. Ninguém sabe se por covardia,
ou por conluio com os ladrões que se dividiam em bandos altamente organizados
para garantir resultados cada vez mais eficazes, deixando assim, que suas
histórias de fracassos individuais se diluíssem numa espécie de sucessos
coletivos, mesmo que todo aquele esforço e júbilo terminasse apenas em algumas
cervejas, tomadas na barraca de uma Tia Maria qualquer, que guardava o dinheiro
evitando perguntas, para não se chatear com a obviedade das respostas.
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