Tenho um amigo que faz muitas viagem
para a vida e por isso, surpreende-me frequentemente com novas barbaridades
teóricas. Acho que para os que leem esse blog sabem a quem me refiro. Pois
então, agora ele voltou a deixar minha ignorância à descoberto, ao dizer-me que
as formas instituídas de trabalho, como o emprego, por exemplo, são com certeza
uma das maneiras mais perniciosas de exploração e violação dos direitos
humanos.
A princípio eu recusei-me a admitir
que isso pudesse ser verdade, pois como a maioria das pessoas da minha época,
cresci ouvindo constantemente ideias, que faziam o trabalho parecer uma das
poucas estéticas de vida aceitável, ao lado de outras balelas estruturantes das
nossas realidades ilusórias (casamento, identidades de gênero e sexo,
superioridade rácica, classes sociais, doenças mentais, justiça social, etc), que
existem sob o véu de verdades universais, aliás, uma pretensão absurda,
descabida e totalmente irrefletida.
Deste modo, dizia meu amigo, quase
enfurecido:
- Começamos muito cedo a acreditar,
que ele dignifica o homem, mas esconderam convenientemente, que os valores que
se seguem, hoje em dia, como a competitividade e urgência, obrigam-nos a
digladiar constantemente com nossos semelhantes, por uma vaga de emprego, uma
promoção, um aumento irrisório no salário, etc., tornando-nos piores que
animais selvagens.
Também quiseram que pensássemos, que
ele é um direito universal, porém, esqueceram de nos dizer, que sempre
existirá, por questões estratégicas do modo de produção capitalista, um
exército de reserva de mão-de-obra desempregada, para manter equilibrada a roda
da oferta e procura; e pensando agora, talvez esse seja na verdade o único meio de participação social e
política, a que a famigerada classe trabalhadora poderá ter acesso, numa
sociedade onde nada mais faz-se por ela, além de esvaziar-lhes sua força de
trabalho, ou expropriar sua autonomia de formas vergonhosamente degradantes e
alienantes, movendo-se na contra-corrente de um presunçoso projeto de
autorrealização e autoprodução de sujeitos, que ironicamente sustenta-se, ser apenas
possível pelo trabalho. E para não contestá-lo com o argumento de que com o
trabalho, pelo menos obtêm-se condições para comprarem o que precisam, meu
amigo, fez-me ver com sua arrogância argumentativa, que na verdade, o que
acontecia era ainda mais degradante, por que ao contrário do que se pensa comumente,
com a lógica atual do trabalho formavam-se consumidores e não trabalhadores. O
trabalho transformou-se em produtor de demandas consumista de tal forma que
hoje trabalhamos essencialmente para consumir, pois essa é a atitude que
sustenta o modo de produção capitalista. E assim, capitalizou-se tudo à nossa
volta: nossos afetos, prazeres, ambições, lazer, em suma, nossa subjetividade e
quem tenta produzir um modo diferente de existência é logo posto à parte.
E agora? Continuo a trabalhar (em outras palavras: a alimentar o dragão capitalista que hºa em mim) ou desisto do meu espirito degradantemente consumista?
ResponderExcluirMorro simplesmente ou me deixo morrer...
...continuo escravo das circunstâncias ou uma simples circunstância da minha escravidão?
Odeio o dinheiro e quem o inventou... Acho que não seríamos menos felizes nem mais infelizes se continuássemos com a verdadeira economia: O Escambo (permuta).
Saudades de outros tempos que no entanto nunca os vi!