Há alguns dias tive a
infelicidade de dar de caras com uma notícia que trazia uma declaração no mínimo infeliz, de um governante angolano na qual
aconselhava os estudantes angolanos que se encontram matriculados em
universidades brasileiras, mas sem bolsas atribuídas pelo Instituto de Bolsas de
Estudo do Governo da República de Angola (INAGBE), a abandonarem os seus cursos
e voltarem para casa.
Bom, antes de articular
minha crítica, acho pertinente dar o contexto da situação.
Angola vive desde o
ano passado uma crise fiscal grave, devido (segundo o governo) à baixa do preço
do barril de petróleo, que é a principal fonte de receitas do governo. Em
virtude desta situação, vários outros problemas foram surgindo afetando não
somente os angolanos que se encontram no país, mas também aqueles que se
encontram na diáspora, dependentes de remessas vindas de Angola, como é o caso
dos estudantes, não apenas no Brasil, mas em países de outros continentes, como
Europa, América do Norte e Ásia.
A desvalorização do
barril de petróleo levou a que se tornasse mais difícil para o governo a compra
de divisas (dólar norte americano), tornando as mesmas, por conseguinte, extremamente
escassas no país, dificultando o envio de dinheiro para os angolanos no
estrangeiro, paralelamente à inflação galopante, que provocou a desvalorização considerável
do Kwanza (a moeda angolana) em relação ao dólar.
Diante deste
contexto, os estudantes no exterior passaram a ter dificuldades enormes no
recebimento das remessas, pois ante toda essa situação o governo decidiu limitar
a saída das mesmas por meio do envio que era feito por bancos e outras agências
financeiras como Money Gramm e Western Union.
Por esta razão, vários
estudantes estão em situação precária e, diferente do que a declaração do Consulado
de Angola no Rio de Janeiro leva a crer, não somente os que estão cá por conta
dos familiares, mas inclusive os bolsistas do governo, estão vivendo momento
difíceis, que aliás, sempre sofreram com os atrasos crônicos no envio de suas
bolsas pelo INAGBE (leia aqui).
A recomendação do
Consulado de Angola no Rio de Janeiro não podia ser mais insensível, por que
desconsidera uma série de questões, dentre as quais: que não existem “angolanos
especiais”, ou seja, os que merecem continuar estudando no estrangeiro e os que
não merecem.
O consulado, que
deveria reconhecer o esforço dos familiares que decidiram por conta própria
enviar seus filhos ao Brasil, discrimina, marginaliza e exclui, apresentando como
única solução, a volta para casa.
O Consulado Geral de Angola
em São Paulo, mostrando-se mais sensível, do que sua congênere no Rio, diante
da situação em vez de “expulsar” os compatriotas, decidiu chamar todos os
estudantes com estes problemas, para juntos procurarem soluções que contemplem “todos”
e não apenas os “filhos legítimos”. Esta atitude mostrou-se assim, menos
excludente e patriótica, enquanto no Rio de Janeiro, optou-se por fazer o que o
governo da República de Angola se especializou. Discriminar, excluir,
marginalizar e cortar os sonhos da maioria da população pobre beneficiando
apenas aqueles que por um ou outro motivo são vistos como os “especiais”.
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