quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sereias do ar

O contrário dos sorrisos cínicos das vendedoras, é concerteza a seriedade das aeromoças. Ninguém resiste sem um pequeno abalo, ao seu categórico “por favor desligue o telemóvel”. Eu até entendo que estão apenas a tentar fazer o seu trabalho, mas Suku yangue, elas são demais. Sabem quando dar um sorriso que quase nunca fazem questão de que pareça simpático, enquanto acariciam os nossos ouvidos com uma autoridade camuflada na veludez das suas vozes tão ironicamente afáveis. Me parece até que é a única profissão em que os clientes é que têm que fazer os funcionários sorrirem, e olha que muitos passageiros tentam. Até porque na maior parte das vezes existe aquele exotismo misterioso que paira sobre essas sereias do ar. E uso sereias propositadamente porque desde há muito eu oiço que elas são sempre lindas, o que só pode ser uma estratégia de marketing. O passageiro pensa logo à entrada, “pelo menos morro como uma voz bonita a afagar-me os ouvidos”, quando na verdade isso não passa de uma fantasia sem verdadeiras consequências, mas pelo menos é agradável, o que não é nada agradável são os pedidos autoritários como “ocupe o seu lugar”, “endireite a sua cadeira” e “aperte o sinto por favor”, em que o por favor cumpre uma função totalmente diferente daquela a que estamos habituados, por mais difícil que isso possa parecer.

Imagem: www.cvsilva.multiply.com

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