sexta-feira, 25 de março de 2011

Crianças são cruéis, velhos são intrujões

Não nada mais sôfrego quanto descobrir que aquelas coisas em que acreditavas e pelas quais colocarias as mãos no fogo (metaforicamente, é claro), não passam de mentiras deslavadas. E não falo daquelas que ouvimos, mas temos a expectativa de que sejam mentiras, como a clássica estória do pai natal – posso até pensar em renas voadoras, mas dificilmente num velho centenário que gasta o seu tempo com crianças que ele nem sabe que existem. Ou a ridícula, mas engraçada estória da cegonha – que criança não se perguntará de onde elas tiram os bebês? Ou dos monstros que saem do armário à noite, felizmente hoje não são os únicos que precisam sair do armário. O coelhinho da páscoa – uma mentira que felizmente só atinge países muito desenvolvidos, ou as promessas dos políticos, que sem dúvida estão destinadas a nunca se cumprirem e várias outras tão ridículas e insólitas. Mas eu falo daquelas que pelo contrário, esperamos até ao fim da vida (não que eu já esteja lá), que se prove que são verdadeiras. “Crianças são anjos e velhos são responsáveis, sábios e comedidos” é sem dúvida a mais nobre de todas. Mesmo que essa tal mídia sensacionalista, muito famosa hoje em dia, nos mostre várias vezes o quanto se tem tornado perigoso acreditar nestas coisas. Entre uma e outra notícia de violência em vários lugares somos obrigados a rever as nossas crenças em relação a isso e perguntar a nós mesmos, quase num sussurro, com medo de que as nossas próprias palavras possam ser as provocadoras da situação:
- Onde estão as nossas maravilhosas crianças, aquelas que nas propagandas nos passam a última esperança de tranqüilidade, que com sua inocência lendária nunca fazem por maldade. Pois é isso mesmo, não agridem por mal, não assaltam por mal e disparam armas por pura curiosidade?
Imagino que a culpa de tudo isso seja dos jogos violentos e dos quadradinhos e bandas desenhadas que inspiram atos heróicos, ou quem sabe dos desenhos animados que falam de valentia e coragem.
E os “velhinhos” em quem antes pensávamos que se podia confiar incondicionalmente e que na sua fragilidade fisiológica tinham sempre à seu favor uma auréola de sabedoria tão antiga e respeitável quanto a sua decadência física?

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