domingo, 30 de outubro de 2011

Hospitais são lugares sombrios

Que hospitais são lugares sombrios, todos sabemos, e principalmente se considerarmos o seu quotidiano e a forma como os agentes de saúde exercem a sua autoridade, sem medo de serem repreendidos e aparentemente sem sequer uma consciência que os mobilize a evitarem que os paciente se sintam responsáveis por um adoecimento que é uma fatalidade, um evento natural, uma espécie de inevitabilidade fisiológica. Na minha terra, costumo ouvir as  mais variadas histórias sobre assombrações noturnas e manifestações de fenômenos dificilmente explicáveis pela lógica humana, mas isso em geral não me assusta tanto, afinal, o quotidiano africano está povoado destas histórias sejam elas dentro ou fora dos hospitais, mas já não vejo com a mesma leveza, o tratamento dos pacientes, porque ainda que a barbárie com que se tratam os doentes se tenha tornado um lugar comum, é mais difícil de aceitar, pois diferente de uma crença alimentada pelo nosso misticismo crônico, trata-se de mostrar o mínimo de humanidade com os outros. É também exercício de profissionalismo e responsabilidade pelo resultado positivo de seu trabalho.

Com certeza nunca ninguém quis adoecer, mas hoje, a idéia de ter que entrar para um hospital torna a pessoa mais fragilizada, pois tem que preparar-se para as humilhações médicas, para o descaso perante o seu sofrimento e para um tratamento abjecto, ou seja, a pessoa nem mais é reconhecida como alguma coisa, é um nada que importuna o merecido descanso do enfermeiro e a sábia concentração do médico.

Ninguém nega a importância deste serviço e exactamente por isso as pessoas ainda se sujeitam ao deplorável tratamento que recebem, às vezes mesmo em clínicas privadas, desde diagnósticos viciados a tratamentos abusivos. E nestes casos, mesmo quando a esperança já não parece uma virtude necessária ainda vivemos dela, apenas para justificar a nossa mísera existência que depende cada vez mais de profissionais aparentemente sem o menor respeito pela vida e dignidade humanas e o pior é que agora até as excepções dependem de um absurdo nepotismo.

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