domingo, 4 de dezembro de 2011

O último revolucionário


Ninguém é mais revolucionário do que um recém nascido, ele não tem medo de nada, é tão corajoso que lembra os heróis dos filmes épicos, que não se importam com o risco, apenas vão à luta e praticamente atiram-se às espadas alheias guardando para si mesmos, apenas a promessa de uma morte honrada e patriótica. Eles também são um bom exemplo de como deve ser uma verdadeira democracia, onde os menores são servidos pelos maiores. As pessoas trocam-lhes as fraldas, dão-lhes de comer e os protegem com uma abnegação admirável, eles sim, exercem o seu direito à liberdade de expressão e isso talvez seja o mais fascinante, não se deixam enganar e berram, literalmente sempre que sentem os seus direitos desrespeitados. Infelizmente, enquanto crescemos, desaprendemos todas essas coisas  e nos deixamos convencer que deixar de exigir os nossos direitos é falta de educação, ou ficamos melindrados com justificações incoerentes sobre a prestação medíocre da governança, que se defende com o nosso desinteresse na participação da vida pública, ou com a nossa ignorância sobre o funcionamento de algo tão complexo, quanto a máquina organizativa do Estado, que é com certeza muito diferente de tudo o que estamos acostumados a gerir, mas quando essa falácia já não é suficiente, nos convencem que somos especiais e que isso é a única coisa que realmente importa, apenas para não berrarmos tanto quanto crianças birrentas dispostas a fazer passeatas, marchas e manifestações que ameaçariam aquilo que eles consideram segurança pública, que nada mais é do que uma tranqüilidade ilusória, já que tudo que a mantém depende de uma formatação generalizadas e propositada das nossas cabeças, algo que é alimentado por uma ignorância crônica e um medo injustificado de berrar que nem bebês, afinal, eles são o último de exemplo de um verdadeiro revolucionário.

Um comentário:

  1. A metáfora desafiadora com que se reveste o texto, retrata bem o pensamento estimulador e desassossego da essência e interesse da narrativa. Mesmo do lado de cá sentimos as amarras e amarguras do lado de lá. A melhor maneira de contribuirmos é do jeito que podemos. Parabéns pelo texto!

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