terça-feira, 13 de março de 2012

Medíocre até na ignorância

Chamaram-me: mente medíocre, não entendi e por isso não me ofendi, sabia com certeza, que não era um cumprimento, mas nunca o tinha ouvido antes e achei que era um insulto não tão insultuoso, na verdade, até gostei de ouvi-lo e passei a repeti-lo várias vezes para outras pessoas, usava-o principalmente, porque me parecia estiloso e chique chamar alguma pessoa  de “mente medíocre”. Ia ao banco e quando alguém se infiltrava na fila, eu tinha o insulto ideal; se a atendente fosse mal educada, não precisava de me zangar, apenas usava a expressão e dava as costas, até no trânsito, lugar de ninguém e famoso pela abertura e à-vontade com que as pessoas costumam a usar palavrões. Mudei de atitude, já não precisava de gritar aquele deselegante filho-da-puta e dizia simplesmente: mente medíocre, quase como se estivesse a recitar uma poesia, porque era assim que ele me soava, poético. Na maioria das vezes, isso cortava o ironicamente mal-educado e ainda mais irritante, “igualmente, obrigado”. Em vez disso, os motoristas se imobilizavam linguisticamente, tentando processar o que tinham acabado de ouvir e enquanto o seu cérebro se descongelava, o sinal tinha apagado, a fila tinha avançado e eu já havia vazado, provavelmente se babavam de raiva, porque não existia xingamento que chegava à altura do meu. Para quem não sabe, Já é muito difícil responder à altura a um termo xulo, quanto mais a algo tão elaborado. Mas a minha alegria não durou tanto quanto eu gostaria. Certo dia meti-me no engarrafamento e fui furando clandestinamente pelo lado direito da fila (dando mbaias), quando um dos motoristas propositadamente me corta o caminho, indignado, usei a fórmula: mente medíocre! Desta vez gritei o Maximo que pôde, para fazê-lo sentir-se ainda pior, mas em vez do silêncio costumeiro ouvi: despenteado mental! Nem o meu insulto gerou alguma vez, tanta gargalhada, quis retribuir, mas o sinal tinha apagado, a fila avançou mais rápido do que o costume e eu entendi finalmente, porquê me chamaram “mente medíocre”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário