terça-feira, 13 de março de 2012

A pobreza está no meio


Embriagado pela minha mediocridade, passeava pelos canais da TV, quando vi pela milésima vez, pessoas discutindo, como os programas de luta contra pobreza são a solução para a maioria pobre, pessoas, que nada têm e por medo ou vergonha de darem uma visibilidade politicamente incorreta à sua miséria, escondem-se por detrás de eufemismos obtusos como: classe média, grupos desfavorecidos, massa populacional, pessoas carentes, etc., que refletem tudo menos a dificuldade em realizarem as suas necessidades básicas, aliás, satisfazê-las é para eles um privilégio, que não passa de um sonho impossível de se realizar.
Como sempre acontece nestes debates, polarizam-se os extremos, primeiro os defensores, com argumentos que tentavam ganhar a simpatia dos telespectadores entre um certo e verdadeiro obscuramente conveniente, como se a verdade fosse um trunfo dos que tinham criado as tais políticas públicas, que de públicas tinham muito pouco, pois, todas as coisas importantes sobre o funcionamento dos mesmos programas, se mantinham envoltas em um secretismo incompreensível, dando a impressão de existir uma cabala enrustida em algo vagamente transparente e democrático. A seguir, apareciam os da oposição, que levantavam-se contra as coisas que cheiravam a controle social e demonstravam uma necessidade quase obsessiva de criticar sem oferecer qualquer saída, pois entendiam, que seu dever patriótico era problematizar até à própria necessidade de respirar. Eles tentavam mostrar como os pobres não precisam de esmolas, mas de oportunidades concretas, que não estivessem disfarçadas de estratégias políticas apenas para garantir uma gratidão manipulada pelo usufruto de direitos merecidos por lei. Eles sempre terminavam os seus argumentos com palavras de ordem contundentes e chamavam os adversários de fascistas, cérebros formatados e ignorantes estruturais, sem capacidade de analisar os motivos ocultos por detrás dos programas que publicitavam, até porque a idéia de pessoa desfavorecida já era um grande crime de segregação, algo reprovado pelos construtores dos paradigmas heurísticos mais importantes da ciência. Por último, se faziam representar aqueles, que como Aristóteles, preferiam acreditar, que a virtude está no meio e a única maneira razoável de se colocar diante de uma questão tão polêmica, quanto essa, era a neutralidade. E eu, que não tinha ainda nenhuma opinião a respeito. Concordei e me acobardei com Aristóteles e esperei que chegassem a algum consenso, porque enquanto se discutia, a miséria se reproduzia.

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