sábado, 5 de maio de 2012

Amar é trabalho escravo


Lembram-se do meu amigo das ideias impossíveis? Pois é, ele voltou recentemente de mais uma das suas viagens e desta vez, disse-me uma das coisas mais bizarras que eu já pôde conceber sobre o amor e que segundo o mesmo, talvez a maioria não concorde.  Amar é trabalho escravo
Claro que o meu cepticismo e arrogância não me permitiram engolir essa logo de princípio, na verdade quase me engasguei com a ideia e mesmo depois de me ter explicado, ainda me senti um pouco enganado. Ele me disse excitado com a minha cara de planície: 
- É verdade amigo, o amor tem todas as características do trabalho escravo. Se não vejamos, nunca é voluntário, afinal, as pessoas, por convicção ou simples conveniência dizem sempre que não se pode escolher o próximo da lista por quem nos apaixonaremos, em vez disso, ele (o amor) acontece por acaso, quase por destino (para quem acredita nessa baboseira) e a partir dali começa uma subsistência ilusória que se baseia na crença de que estamos com quem gostaríamos de estar, tornando assim a privação da liberdade, que começa com um bem intencionado telefonema a cada 30min “apenas para dizer que te amo”, quando na realidade é para sossegar a nossa índole desconfiada, o princípio de tudo, seguindo-se as mudanças de plano de última hora cada vez mais frequentes para se estar mais tempo com ele(a), sem percebermos que nos afastamos cada vez dos nossos amigos e é aí que o namoro começa a tornar-se tão exaustivo quanto um trabalho de uma jornada de 24 horas. 
Ele  possui um escravocrata que acredita merecer um serviçal, que satisfaça suas vontades sociopatas e não pára de exigir provas impossíveis de amor, divertindo-se com as tentativas infrutíferas do seu amante para lhe mostrar que é a pessoa mais importante da sua vida, o que normalmente apenas serve para inflamar a certeza de possessão do fulano apaixonado, que por isso, vive constantemente aquela tensão de uma relação inconveniente e desigual oferecendo ainda assim, assistência incondicional, sem dar-se ao trabalho de pensar o que isso realmente significa para si e a sua própria dignidade muitas vezes perdida entre as promessas de fidelidade e testes de inesgotável paciência, ou de limites absurdamente elásticos, que no desespero para conseguir a aprovação dos seus sentimentos se empenha em provas de confiança obscuras e com resultados improváveis, portanto, é nessa servilidade doentia em que as pessoas apostam uma devoção desconcertante ao amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário