Percebi recentemente, que uma
das fórmulas mais antigas para se estabelecer diferenças entre os homens é dicotomizando.
O processo é simples: o outro é sempre diferente e de preferência o menos
interessante, o extremo oposto, por exemplo, se alguém for alto, bonito e
inteligente, precisamos desesperadamente que o outro seja mais baixo, mais assustador
e de preferência o mais ignorante possível, um kinder ovo de burrice. Fazer
isso pode parecer inofensivo, principalmente se pensarmos que na maior parte
das vezes bestializamos esses outros para tornar mais fácil assimilar as
caricaturas que fazemos de forma paternalista sobre eles, porém nada está tão
longe da realidade e saberíamos disso se não nos deixássemos impulsionar de
forma incompreensível pela vontade de nos colocarmos sempre acima dos outros. Pensemos
nos exemplos do gordo, do feio e do estúpido, em que deixamos de parte por
conveniência nossa sensibilidade para tratar de forma quase animal, aqueles que
por algum capricho da natureza foram obrigados a desenvolver um medo patológico
do espelho, da balança ou de si próprio. Aliás, já nos acostumamos a dizer e
ouvir essas coisas, sem nenhum peso de consciência, ou compaixão. Claro que em
casos como os de que falei atrás tentamos sempre nos posicionar do lado
positivo deste esquema dicotômico, afinal, quantas vezes não nos deleitamos com
a descoberta de um fulano que reinventa sua estupidez de formas mais criativas
do que nós? Portanto, não há como negar que todos, de alguma forma, já fomos
beneficiados por esse famigerado modo de funcionamento do mundo; e sem pensar
nas consequências, adotamo-lo com uma passividade irrefletida, sem nos
preocuparmos com o fato de que é dessa forma que se criam extremismos mais
perigosos como: cristãos versus muçulmanos, primeiro versus terceiro mundo,
ricos versus pobres, civilizados versus matumbos; e vários outros, que provocam
ódios homicidas e genocídios aparentemente inevitáveis. Por isso, talvez seja
altura de começarmos a pensar em termos diferentes, quem sabe esse não é apenas
um dos pequenos passos de que precisamos para tornar nosso planeta um lugar
melhor?
Dicotomizando... Meu amigo é extremamente deselegante, com enormes dificuldades de integração social... Ele precisa realmente de melhorar a sua capacidade de comunicação com o uiverso.
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