terça-feira, 5 de março de 2013

Mente Cyborgue


Hoje meu amigo entrou injuriado em minha casa, peidando impropérios. Perguntei o que se passava e ele respondeu-me com um desapontamento incompreensível:
- A tecnologia meu caro, tem tudo a ver com essa abelhuda, que nos convenceu ser essencial para nossa miserável existência.
Eu, sem entender muito bem, mas mordendo-me de vontade de ouvi-lo desenterrar mais uma de suas delirantes conjecturas, fiz aquela cara exclamativa, de propósito. Encorajando-o a continuar.
- Então meu dileto amigo, é a mesma história e as pessoa, na verdade o mundo todo, negligencia isso. Continuando cada um com sua vida, como se de um pachorrento domingo se tratasse, enquanto as máquinas nos subjugam cooptando até aquilo que tínhamos como última barreira entre nós e elas, - nossa subjetividade. Transformando-nos em interfaces de um programa qualquer, de poluídas redes sociais, condicionando-nos a ser palhaços de um palco de espetacularizações; às quais aderimos com o maior prazer deixando que parâmetros de computador redefinam nossas relações com o mundo. Enquanto Delegam a nós mesmos a tarefa de nos convencermos com a simplicidade do argumento do encurtamento das distâncias e de uma suspeitosa tele-existência, sem parar para refletirmos, que o custo disto é mais alto do que a construção de uma nova forma de vida na qual as pessoas emprestam parte de sua subjetividade ao mundo virtual, virtualizando não apenas suas relações de trabalho, afetivas, culturais, etc., mas a si mesmos, transformando-nos em parte integrada à eletromagnética e às tecnologia informacionais e produzindo uma perigosa superexposição das nossas intimidades na web, incentivada pela promessa mentirosa de notoriedade e reconhecimento. Ficando assim esquecidos todos aqueles rituais de um tempo em que a vida ainda era experimentada no cara com a rua, na insegurança quotidiana de um dia de trabalho, no contágio despropositado de emoções e nos flertes maliciosos que casados e solteiros trocam nos transportes públicos.

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