Hoje meu amigo entrou injuriado em minha casa,
peidando impropérios. Perguntei o que se passava e ele respondeu-me com um desapontamento
incompreensível:
- A tecnologia meu caro, tem tudo a ver com
essa abelhuda, que nos convenceu
ser essencial para nossa miserável
existência.
Eu, sem entender muito bem, mas mordendo-me de
vontade de ouvi-lo desenterrar mais uma de suas delirantes conjecturas, fiz
aquela cara exclamativa, de propósito. Encorajando-o a continuar.
- Então meu dileto amigo, é a mesma história e
as pessoa, na verdade o mundo todo, negligencia
isso. Continuando cada um com sua vida, como se de um pachorrento domingo se
tratasse, enquanto as máquinas nos subjugam cooptando até aquilo que tínhamos como
última barreira entre nós e elas,
- nossa subjetividade. Transformando-nos em interfaces de um
programa qualquer, de poluídas
redes sociais, condicionando-nos a ser palhaços
de um palco de espetacularizações; às
quais aderimos com o maior prazer deixando que parâmetros de computador redefinam
nossas relações com o mundo. Enquanto Delegam a nós mesmos a tarefa de nos convencermos
com a simplicidade do argumento do encurtamento das distâncias e de uma suspeitosa
tele-existência, sem parar para refletirmos, que o custo disto é
mais alto do que a construção de uma nova forma de vida na qual as pessoas emprestam parte de sua subjetividade ao mundo
virtual, virtualizando não apenas suas relações de trabalho, afetivas,
culturais, etc., mas a si mesmos, transformando-nos em
parte integrada à eletromagnética e às tecnologia informacionais e produzindo uma perigosa superexposição
das nossas intimidades na web, incentivada pela promessa mentirosa de notoriedade e reconhecimento. Ficando assim esquecidos todos aqueles
rituais de um tempo em que a vida ainda era experimentada no cara com a rua, na
insegurança quotidiana de um dia de trabalho, no contágio despropositado de
emoções e nos flertes maliciosos que casados e solteiros trocam nos transportes
públicos.
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