domingo, 13 de outubro de 2013

CAFEZINHO?


Gosto de pensar, que o cafezinho que oferecemos, ou nos é oferecido, é muito mais do um simples café, é um arranjo social, uma possibilidade de contato entre as pessoas, uma oportunidade de engatilhar uma conversar de forma aparentemente desinteressada, sem o formalismo que exigiria o brochante prolegômeno:

- Precisamos conversar.

Acho que a maioria não pensa muito nisso, que o café é muito mais do que uma chávena minúscula com um líquido de sabor duvidoso, que, no entanto está presente em muitas das nossas interações. Igual ao chá inglês ou à bulunga (quissangua) angolana, ele é também e essencialmente, um fato social.

A gente começa muitas vezes com um:

- ...cafezinho? Que sabemos que devemos responder com um comedido e bem educado sim! Mas também sabemos que este não é um sim qualquer. Ele é sui-gênere, especial, pois abre portas para um mundo, que um incauto não! Interromperia à meio do caminho.

“Quer um cafezinho”, é quase uma maneira inovadora de dizer, tudo bem, como vai você, como está, que tal bater um papinho? É a pergunta que trás muito mais do que aquilo que parece que se quis perguntar (por detrás do açúcar ou adoçante?), é a oportunidade de trocarmos confidências nos intervalos das supervisões, de fazermos umas fofocas básicas sobre a vida interessantemente promíscua dos colegas de trabalho, uma desculpa sancionada socialmente para interromper discussões acaloradas, ou para propor uma mudança de direção naquelas abordagens desnecessariamente incômodas.

É um convite para matar a saudade das conversas, que não precisam levar a lugar algum, mas nos permitem usar a companhia do outro, sem preocupações com assuntos sérios e comedidos.

Esse cafezinho é o ingrediente que torna encontros banais em momentos interessantes e gostosos, tão doces que faz esquecer o amargor que sobrevive aos nossos dramas cotidianos. Com adoçante ou açúcar, ele é o fato que consubstancia o social!
                                              
OBS.: Este texto é uma homenagem ao pessoal da República São Jorge (Claudinei, Maico e Waldir).
 

Um comentário:

  1. E ai do senhor em recusares em tomar um bom e acalorado café conosco. Muito bom o texto, fez-me lembrar das boas prozas acompanhadas de boas companhias e um bom café. A conversa que de tão banal pretenderia ser, tão acalorada e instigante nos mostrava para pensarmos sobre o inefável de nossas vidas. Ótimo texto seu Feliz.

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