quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tás a ir, agora aguenta!

Eu me divirto observando as diferenças entre as pessoas e grupos, e com o tempo aprendi como é interessante olharmos para elas, pensando no que nos querem dizer. E digo isso sem pensar na língua. Há características que são bem mais idiomáticas que o próprio idioma. As minhas preferidas são as frases de efeito, elas revelam muito sobre como determinado grupo pensa, de que forma vive ou como operacionaliza o seu quotidiano, ou melhor ainda, como resolvem os seus problemas. E mesmo que na maior parte das vezes isso pode apenas parecer uma brincadeira desinformada, revela algo, senão sobre os outros, pelo menos sobre nós mesmos.
Por exemplo, o “dolce farniente”, ou o “primo comere depo filosofare” faz-me gostar dos italianos. Na minha opinião, isso explica muita coisa. E nos faz entender melhor a pizza e o macarrão. Porém, acho estranho o “Le sefardi” francês, porque faz-me logo pensar em homens barrigudos de gorro e casacos de malha passeando ao lado da torre Eiffel ou fazendo filas pachorrentas no louvre.
Sem dúvida a “time is money” reflete o espírito dos ingleses. Aquela pontualidade lendária quase esquizofrénica e a organização praticamente obsessiva. As boas maneiras e outras coisas pelas quais são conhecidos e que os convencem de uma das maiores ingenuidades biológicas, (que têm realmente sangue azul).
A disciplina oriental que é difícil de explicar a não ser pelo medo quase irracional de ficar em segundo lugar, mas mesmo assim, não tão hilária quanto o “geitinho brasileiro” para quase tudo e a utópica ideia de que não há o que não se resolva se apelares para ele. Entretanto, nada tão criativo quanto o “Tás a ir, agora aguenta” que apesar de ter surgido apenas para Taag não deixa de ser uma maneira interessante de falar dos valores angolanos. Onde parece que as pessoas não passam de vítimas sequestradas pelo sídrome de Estocolmo. Ou o costumeiro “deixa estar”, que serve para quase tudo o que por algum motivo não se resolve nunca. Ou o não menos frequente “isso é Angola” que diz quase tudo sobre o país da maneira mais eufemisticamente criativa, deixando propositadamente de falar de coisas que causariam vergonha e que sustentam os discursos politicamente correctos do pobre, mas com dignidade, esquecendo-se que na maior parte das vezes é difícil eles coexistirem.

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