Faz algum tempo que tenho
pensado em escrever sobre o Angosat 1 (o satélite angolano lançado em 2017 em
cooperação com a Rússa).
Gostaria de partir da premissa de
que o Angosat 1 é um Sintoma!
Como sabemos, um sintoma é de
maneira geral a descrição
de um mal-estar relativo à determinada situação ou evento que cause sofrimento.
Mas então, porquê o Angosat 1 seria
um sintoma e do quê exactamente (de que doença)?
Pois bem!
O Angosat 1 é um sintoma da situação do nosso querido e amado
país. O que eu quero dizer, em outras palavras é que o Angosat 1 representa um
mal-estar geral vivido por nós angolanos há vários anos. Ele é mais um de
vários e antigos avisos de que há coisas que merecem a nossa atenção. Aqui é
importante dizer que essas coisas são merecedoras de atenção não somente da presidência, mas de toda a
nação.
Enquanto sintoma, o Angosat 1 engrossa uma lista de que fazem
parte, projectos de grande e de pequena importância tais como a Barragem de Laúca, que pouco depois de
inaugurada apresentou problemas relacionados à uma infiltração provocada pelas
chuvas, o fracasso do PAPAGRO, depois de ter
consumido cerca de 515 milhões de dólares, o Hospital Geral de Luanda, que teve que ser
fechado temporariamente, logo depois da inauguração, sem que se tenha tornado
público o investimento nele aplicado, os problemas com o Fundo de Combate à Malária, os desvios relacionados
ao Fundo Soberano, a falência do programa Merenda Escolar, entre vários outros. Todos
eles têm uma característica fundamental:
Foram concebidos para falhar!
Nenhum deles foi feito e pensado para funcionar, ou ao menos
para funcionar à longo prazo, mas para falhar espalhafatosamente. Neste sentido
eles ironicamete, deram tão certo quanto se podia esperar. Esta minha conclusão
é sustentada pelo facto de que a única variável consistente em todas estas obras
e outras não citadas é a sua morte anunciada.
São na sua maioria projectos que lembram as obras faraônicas
que alimentaram a derrocada da utopia megalomaníaca do Ghana, quando conselheiros
ocidentais, cheios de “boas intenções” ofereceram ideias e planos que prometiam
transformar o Ghana acabado de sair das mãos de seus antigos colonizadores numa
espécie de delírio, que levaria ao surgimento de uma suposta versão africana
dos Estados Unidos, construindo grandes edifícios
de luxo quase sem nenhuma utilidade. Alguns dos quais nem sequer foram
concluídos.
Contudo, questões como a desonestidade crônica da governança,
a falta de transparência e um anti-patriotismo patológico, tornam-se apenas
corrolários dos problemas de fundo.
O modus operandis é
o mesmo, por meio de empréstimos e concepções estrastoféricas e predatórias, ocidentais
oferecem-se para contribuir num suposto desenvolvimento acelerado do país. Os
líderes desavisados, ou alimentados por delírios megalomanícos aceitam e passam
a seguir uma agenda que muitas vezes coloca o povo em 6º, 7º ou 8º lugar.
Angola, tal como outros no passado e mesmo no presente, tem caido
consistentemente na mesma armadilha seduzida pela promessa de um crescimento acelerado, quase mágico,
contudo sem pensar no básico, ou pior, negligenciando a própria população.
Só assim se justifica que por exemplo, se tenha priorizado a
construção de um satélite de USD 252.000.000 (duzentos e cinquenta e dois milhões
de dólares norte americanos) num país em que o Indice de Desenvolvimento Humano
coloca-nos no 150º lugar numa lista de 188 países, enquanto os hospitais quase
não têm medicamentos, alunos estudam debaixo de árvores, contingentes enormes
de angolanos vivem sob condições subhumanas e a pobreza se torna um verbo
conjugado diariamente por milhares de cidadãos sem uma aparente preocupação por
parte daqueles que nos governam.
Portanto, o Angosat 1 é isso mesmo, um sintoma!
Um sintoma da nossa inércia enquanto cidadãos.
Um sintoma da falta de consideração de quem nos governa.
Um sintoma da falta de comiseração daqueles que vivem
privilégios estratosféricos à custa da morte e miséria de outros.
Um sintoma, enfim, do nosso fracasso enquanto projecto de
nação!
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