A
subida do preço do passaporte angolano é um falso problema, na verdade acho que
esta notícia deveria ser recebida com indiferença pelos angolanos. O facto de
ter feito tanta gente levantar-se para reclamar, para mim é simples expressão
da ignorância de uma pretensa pequena burguesia sobre a real situação de
milhares de angolanos para quem o passaporte não significa absolutamente nada, afinal,
o que é o passaporte diante dos seguintes factos:
Apenas
uma em cada 4 crianças com menos de 5 anos de idade nascidas em Angola possui
registo de nascimento, aliás, é este o fundamento da campanha paternidade
responsável;
Apenas
na capital do país o ensino público de base cobre apenas 59% do necessário;
A
malária ainda é a campeã entre as doenças que mais matam angolanos com 56% das
mortes nos nossos hospitais;
Entre
as crianças 29% sofrem de má-nutrição;
Cerca
de 200 mil angolanos não consegue ter um bilhete de identidade, este sim, um documento
importante para todos (sem excepções).
Por
tudo isso, o passaporte não é prioridade, não diante de dramas como falta de comida
à mesa, Desemprego perto dos 46%, saúde pública como miragem, habitação decente
só para os especiais e educação que exclui descaradamente dois milhões de
crianças do sistema de ensino.
Nesse
contexto, a aspiração à uma viagem internacional (que é o que pressupõe o
tratamento de um passaporte) é nada mais do que um delírio de pessoas que se
supõem enganosamente classe média, por ignorância ou vergonha de assumir o que
realmente são: pobres assalariados.
Reclamar
sobre a subida do preço do passaporte na conjuntura actual de Angola e assumir
discursos nos quais se sustenta que isso seria dificultar a vida dos mais
pobres, apenas reflecte como nos anestesiamos enquanto sociedade para não sermos capazes de nos mostrar minimamente empáticos para a situação de tantos outros compatriotas para que o passaporte não é algo que faça parte da sua realidade.
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